05/03/2024 às 17h45min - Atualizada em 05/03/2024 às 17h45min

A transgeracionalidade na violência doméstica

O termo transgeracionalidade refere-se a padrões transmitidos de pais para filhos, perpassando gerações e apresentando-se como modelos que se repetem nas relações familiares.
Este fenômeno se constitui na transmissão de legados, mitos, aprendizados, jeitos, falas, gestos e outros aspectos advindos da família de origem para a família atual, e são responsáveis por formar a identidade do integrante familiar.
A violência doméstica não pode ser entendida como se tivesse um único agente causador, mas sim uma multiplicidade de diferentes fatores, como: emocionais, biológicos, cognitivos, sociais, comportamentais e familiares. Com relação aos fatores familiares podem ser desencadeados por modelos vistos, sentidos e observados de uma geração para a outra. Vai dizer que você nunca ouviu a expressão: “filho de peixe, peixinho é”?
Vivemos em uma sociedade patriarcal, sendo banalizado diariamente os comentários, as ações, os comportamentos das mulheres, que muitas vezes é vista como objetificação do feminino.
Importante salientar que o comportamento violento tem uma motivação, uma necessidade e um sentimento não atendidos. A violência é uma forma de expressão do comportamento que pode ser identificada ao longo de toda a história da humanidade e que pode se manifestar de diversas formas. Por esse motivo, o contexto social e histórico influencia diretamente na forma em que a violência se manifesta e na maneira como cada sujeito e/ou casal avaliam o seu relacionamento.
A violência que se expressa na família é compreendida como um processo cíclico, progressivo e relacional. Assim, o ciclo da violência doméstica, geralmente tem três fases. São elas: I) Construção da Tensão: esta fase é onde iniciam pequenos incidentes, são considerados racionalmente e acreditam que a situação ainda está sob controle; II) Tensão Máxima: nesta fase, ocorre a perda do controle sobre a situação, sendo as agressões levadas ao extremo; III) Lua de mel: fase de reestruturação do relacionamento, desejo de mudança, arrependimento e promessas de que nunca mais se repetirá.
Nos últimos anos, os estudos evidenciaram a importância de olhar para o autor da violência doméstica a partir do que recebeu das gerações anteriores e compreender, acima de tudo, a repercussão das questões vinculadas à transgeracionalidade e à intergeracionalidade. Todos nós recebemos não só uma herança patrimonial, mas também emocional, social, econômica e cultural, próprias do contexto de inserção de sua família.
Para contribuir com o estudo das relações familiares, a teoria sistêmica auxilia na compreensão do sujeito de forma mais abrangente, pois, não é possível analisar o indivíduo e as dificuldades que o afetam sem considerar o seu sistema familiar, visto que o ser humano está sempre em interdependência com o meio em que está envolvido.
Diante disso, a violência familiar é a reprodução do modelo de educação que foi recebido dos pais na infância, ou também uma “perpetuação transgeracional do ciclo da violência” daquela família, utilizando da violência como o método mais usado para a resolução dos conflitos.
As mulheres hoje assumiram o papel de protagonismo nas famílias e isso inverte a lógica patriarcal, contribuindo com o início da violência doméstica, fazendo nascer retaliações, abusos e controles dentro do lar.
Antes as mulheres não tinham saída, hoje elas podem ser donas do próprio destino e separam-se.
A desvalorização feminina, a repetição dos padrões de comportamento violento e o mito familiar de que o homem tem mais poder que a mulher dentro do casamento, são características que estão presentes em sua constituição como sujeito e como gênero feminino. Na violência doméstica a mulher é desprezada e desqualificada como mulher em muitos momentos, essas ações deram força para que ela segue o legado familiar, uma vez que repete padrões de comportamento violento, buscando escolhas amorosas que lhe façam sofrer ou que a desqualifiquem, estando assim, dentro da boa consciência.
O direito sistêmico transforma as relações familiares, busca a verdadeira paz dos conflitos e não somente apontar culpados, traz humanidade para os processos e consciência para os envolvidos.
 
Juliane Silvestri Beltrame Advogada especialista em conflitos familiares e escritora


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