19/04/2024 às 09h30min - Atualizada em 19/04/2024 às 09h30min

Em Palma Sola e região quebra de 15% na safra de soja

As informações são do gerente da Cooper Alfa agência de Palma Sola, Leonir José Piovezan e do engenheiro agrônomo da cooperativa, Mauricio Piaia. Veja ainda, o depoimento do produtor Leonardo Link, que fala como foi sua safra neste ano

Leonardo Link é um dos produtores de Palma Sola que colheu nesta safra, menos que na safra anterior, em razão da diminuição de sua área de plantio. (Foto: Leonardo Link)
A safra de soja de 2023/2024 enfrentou desafios significativos, com uma quebra de 15%. Embora os custos de produção tenham diminuído, devido à queda nos preços dos insumos, como fertilizantes e defensivos, os problemas climáticos decorrentes do El Niño [que atuou até o fim de dezembro] causaram obstáculos desde o início do plantio. As informações são do gerente da Cooper Alfa agência de Palma Sola, Leonir José Piovezan e do engenheiro agrônomo da cooperativa, Mauricio Piaia. 
Segundo Mauricio, pelo zoneamento, o plantio da cultura em Palma Sola e região iniciou após o dia 2 de outubro e por conta do excesso de chuvas se estendeu até o início de dezembro. “As chuvas atrapalharam a germinação e a uniformidade da lavoura. Tivemos algumas áreas alagadas nas lavouras e as plantas acabaram morrendo pelo excesso de umidade no solo. Com o decorrer do tempo o excesso de chuva virou falta em algumas microrregiões. Para finalizar, tivemos a incidência da ferrugem (doença) implicando ainda mais na perda de produtividade”, explica o agrônomo.
Ainda conforme ele, a estiagem atingiu as lavouras durante o período de florescimento e formação de grãos – que ocorre de 50 a 80 dias após o plantio. Na região, a principal variedade de soja plantada é Zeus. Uma das características desse material é abortar a ponteira durante a estiagem: “Onde ele segurava de oito a dez vagens, tinham de duas a três, isso trouxe uma perda de 15% a 20% na produtividade”, inclui Mauricio.
Com o fim da colheita, o gerente da Cooper Alfa, Piovezan, menciona que a quebra da safra foi de 15%. De acordo com eles, alguns produtores colheram mais que no ano passado, enquanto outros, colheram menos. “No geral, a média de sacas de soja por hectare no ano passado foi de 70, neste ano a média foi de 60. Tivemos produtores que colheram 90 sacas/ha, enquanto outros colheram 30 sacas/há. A falta de chuva prejudicou bastante, mas onde choveu produziu mais”, completa.
Queda na produtividade impacta na economia e na safra 2024/2025. Quem colheu menos terá menos lucro e consequentemente vai investir menos, seja em maquinário, em terra ou na troca de seu automóvel.  
Neste ano, a equipe técnica da Cooper Alfa, agência de Palma Sola, prestou assistência a 16 mil hectares de soja. Maurício avalia que ano após ano, as áreas de plantio de soja vêm aumentando, em comparação às áreas de plantio de milho. “Tivemos uma redução de plantio de milho de 70% em relação ao ano anterior. Isso acontece por um conjunto de fatores, como a cigarrinha, que causa quatro tipos de doenças diferentes, e o fator climático. Antes da chegada da cigarrinha era fácil passar das 200 sacas/ha, hoje para chegar a 180 é um desafio. Então hoje, hoje para o produtor é mais fácil produzir 60 sacos de soja do que 200 de milho”, completa o agrônomo.
 
O que dizem os produtores?
Leonardo Link é um dos produtores de Palma Sola que colheu nesta safra, menos que na safra anterior. Ele também plantou menos milho que nos anos anteriores.
“Nessa safra eu colhi, em uma média geral, menos que na safra passada em razão da diminuição da minha área de plantio, que passou de 1300 hectares, para 1100 hectares. Isso porque, uma área que eu arrendava foi vendida e o atual dono assumiu o plantio. Por uma questão de planejamento deixei de plantar milho para plantar soja. Plantava 1300 hectares e fui para 1100 hectares. Os meus compromissos quantifico em soja, parcela de arrendamento, de compra de terra. A minha moeda é a soja e tenho que condicionar aquilo que compro e vendo em soja, não adianta ir pro milho. Hoje existem contratos por milho, sim, consigo dar o meu milho em troca do adubo, trocar milho por fungicida, mas a soja é algo mais geral”, explica o produtor.
Segundo ele, há alguns anos, a lavoura de milho funcionava da seguinte forma: você investia valor “X” e sabia que ia colher quantidade “Y”. De três anos pra cá o cenário mudou.
“Em 2019 fechei em média 238 sacas/há. Em 2021 tinha a cigarrinha, eu ia colher 200 sacas/ha, e colhi 102 sacas. Depois teve a seca, colhi 113 sacas/ha, num planejamento esperado de 220 sacas. No ano passado fechei 182 sacas /ha, também num planejamento de 220. Então esses últimos três anos foram frustração total, então neste ano não plantei. Hoje o milho é uma cultura complexa para se produzir”, completa Leonardo.
Quanto aos custos de produção, ele afirma que os custos de produção baixaram, mas existe diferença de custo se você for, ou não, dono da terra onde planta.
“Sendo dono o custo é de 25 a 30 sacas de soja, depende do que for investir. Considerando investimentos em alta tecnologia, agricultura de precisão, inoculante. O custo não será menor que 25 sacas/há. Tem ainda custos variáveis com manutenção de maquinário, prestação de um financiamento, dessecação. Então o custo de produção não ficará menor que 30 sacas/ha. Sendo realista, o insumo baixou, mas essa baixa não foi proporcional ao que a soja baixou. Se a soja baixou 30%, o insumo baixou 15%”, informa o produtor.
Ele acrescenta que quem tem arrendamento e quer colher 60 sacas/há, em média, precisa fazer a lição de casa, ou seja, acelerar investimento para ter lucro, considerando que na nossa macrorregião os custos de arrendamento variam de 15 a 25 sacas de soja/ha.
“Se você pega uma média de 60 sacas/ha e seus custos são de 30 sacas, sobra 50% de lucro, mas 50% de lucro é de mais, não sobra isso. Alguma torneira está ligada e ninguém sabe que torneira é essa. O leite por exemplo, se sobrar 15% está excelente. Eu não sei onde estão essas torneiras, se estão na luz do meu escritório, no detergente da minha rampa de lavagem, na graxa e no óleo das minhas máquinas. São nessas pedrinhas pequenas que a gente tropeça. As pedras grandes a gente vê e desvia. Essa é uma realidade minha e de todos”, completa Leonardo.
Hoje a saca de soja está custando em média R$ 113. Para Leonardo, esse valor é baixo. Ele recorda que no passado a saca de soja chegou a ser comercializada por R$ 200: “O produtor acredita que o valor real da soja é R$ 200 é ganancioso. Para nós, um valor normal seria entre R$ 140 e R$ 150. Ai o produtor estaria trabalhando um pouco mais confortável”.
O gerente da Cooper Alfa, Piovezan, completa dizendo que falar de valor de mercado é como falar de clima, muda muito rápido e depende de vários fatores.
“No ano passado, quando o pessoal começou a colher estava em torno de R$ 150, R$ 160, a saca e de lá pra cá o preço só caiu, o menor preço foi R$ 103 e agora está em cerca de R$ 113. O que sabemos é que os estoques mundiais de soja estão mais altos, a Argentina colheu uma boa safra, o Rio Grande do Sul colheu uma boa safra. Há uma previsão, para que até o final de maio o valor chegue perto dos R$ 120 por saca”, finaliza.


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