19/09/2024 às 15h00min - Atualizada em 19/09/2024 às 15h00min

Juarez é homenageado pelo Conselho Regional de Medicina

O Conselho Regional de Medicina do Paraná concedeu Diploma de Mérito Ético-Profissional ao médico Juarez de Oliveira Pinto pelos 50 anos atividade sem nenhuma sanção ético-profissional

Ruthe Kezia
Palma Sola
Juarez realizou 18.474 partos normais e cesáreas, aproximadamente 25 mil cirurgias em centro cirúrgico, aproximadamente 42 mil cirurgias ambulatoriais e pelo menos 234 mil consultas. (Foto: Divulgação)
Prezar pela boa conduta, mesmo quando os outros o chamam de chato, tem os seus benefícios. O renomado doutor Juarez de Oliveira Pinto, de 75 anos, recebeu do Conselho Regional de Medicina um convite de celebração aos seus 50 anos de serviços prestados à comunidade. Para ele, foi muito gratificante ser reconhecido e ao mesmo tempo surpreso, por já ter se passado 50 anos de atuação.
Nesta edição, o jornal Sentinela relembra um pouco da história do obstetra Juarez que é filho de um ex-jogador de futebol e ferroviário, e de uma mãe humilde, que tinha apenas o 4º ano completo na escola, ele nasceu no dia 13 de março de 1949, em Curitiba. Além de Juarez, o casal teve mais dois filhos.
Ele lembra com muita saudade, da época em que ele e sua família moravam próximo a linha de trem e juntamente com seu irmão mais novo, iam até as estações vender milho verde, ovo cozido e amendoim.
Juarez veio de uma família pobre e mesmo sem recursos financeiros, sonhava em ser médico. Ele lembra que por volta dos 11 anos falava que iria ser médico e tinha uma tia que dava risada, no dia em que ele se formou, ela foi a primeira a receber o convite para a sua formatura.
Ele não sabe ao certo de onde surgiu esse gosto pela medicina, já que em sua família ele foi o primeiro médico. Porém, recorda que quando criança, sua mãe fazia homeopatia [uma especialidade médica e farmacêutica que consiste em ministrar ao doente doses mínimas de um medicamento, para evitar a intoxicação e estimular a reação orgânica], e acredita que através disso pode ter sido influenciado.
Hoje com 75 anos, sem precisar tomar antidepressivos e remédios para dormir, Juarez tem cinco filhos e três netos, e resume a vida em três pilares, sendo eles: família, educação e boas ações. Ele diz ter conhecimento quando as pessoas o xingam pelas coisas que faz, a exemplo de operar de graça, mas para ele esses são os atos bons da vida.
A medicina lhe proporcionou tudo. Juarez é grato aos pais por terem lhe incentivado a estudar e para ele o segredo da vida está no conhecimento, Juarez afirma que alguém só muda de padrão de vida se tiver conhecimento: “Eu sempre falo, quem não tem muita condição financeira, deve apostar em cursos técnicos”.
Juarez consegue visualizar um antes e um depois da medicina, ele lembra de quando ia vender ovo cozido, milho verde e amendoim na estação de trem, de quando morava em um lugar chamado Guajuvira e voltava tarde para casa com fome: “E agora vivo em uma casona, mas tenho os valores do passado, gosto de coisas, roupas e comidas simples. A vida é mais ou menos isso, as pessoas que complicam demais”.
 
Conhecendo um pouco mais sobre Juarez
Antes de realizar seu sonho de infância, que era ser médico, Juarez jogou pelo Atlético Paranaense entre 1966 e 1973. Jogador de futebol durante sete anos, ele conta que a tradição de ter jogadores na família veio da sua avó paterna: “A gente acha que o futebol vem sempre de homens, mas na minha família o futebol veio da família da minha avó [família Meister], meu avô não sabia chutar uma bola”, relata o ex-jogador Juarez.
A família Meister veio da Ucrânia, Suíça e da Alemanha e em 1909 fundaram na capital paranaense o Coritiba Futebol Clube, o popular Coxa Branca. Mesmo com histórico de jogares na família, a exemplo de seu pai, Juarez nunca quis seguir essa carreira, sempre sonhou em ser médico. “O futebol não era o que é hoje, ganhava uma graninha boa, mas ganhava para se sustentar”, relembra Juarez.
Juarez se julga um homem que teve sorte na vida, pois aprendeu a ser disciplinado, a cumprir horário e a não deixar de trabalhar. Ele é grato ao seu tio Ico que era militar e colocou na cabeça de seus pais que Juarez devia estudar em um colégio militar e lá ele aprendeu esses valores que carrega até hoje, especialmente a disciplina.
Ele passou no vestibular e no quarto ano da faculdade, deixou de ser jogador e passou a dar aula na escola Dom Bosco: “Um dia o presidente do Atlético me perguntou: ‘Afinal você quer ser médico ou quer ser jogador de futebol?’ Eu falei que não tinha dúvida e queria ser médico. Parei com o futebol e fui dar aula em cursinho de física”, conta Juarez.
Aos 23 anos, Juarez casou-se com Maria Joice Pazinatto, com quem teve três filhas: Juliana, Ana Cristina (dentistas) e Luciana (em memória), divorciaram-se após 11 anos de casamento. Dois anos depois casou-se com Silvânia Picolotto, que conheceu em Guarapuava-PR, com ela teve os filhos: Fernando e José Vicente, ambos médicos, o casamento durou 21 anos. Depois de alguns curtos relacionamentos e sem novos filhos, Juarez conheceu a técnica de enfermagem, e pedagoga com pós-graduação em arteterapia, Roseli Provenzi, com quem convive há 14 anos.
 
A trajetória de Juarez como médico
Juarez se formou em medicina no dia 5 de novembro de 1974. Depois de formado, Juarez foi para Guarapuava-PR, trabalhou por alguns anos lá e depois retornou para Curitiba para se especializar em ginecobstetricia. Depois foi trabalhar em uma cidade chamada Cláudia no estado do Mato Grosso e lá ficou durante 7 anos: “Nesse hospital, que era um galpão de madeira, eu fiz 800 partos e mais de 600 cirurgias”, relembra Juarez.
Saiu de Cláudia e ficou por 20 anos trabalhando no Rio Grande do Sul, na cidade de Aratiba para então vir para Santa Catarina em 2005. A primeira cidade do Oeste Catarinense que ele atuou foi Anchieta, ele recorda que nessa época estavam querendo fechar o hospital. Depois de um tempo começou a atender também em Guaraciaba-SC.
Até que apareceu a oportunidade para ele atender em Palma Sola. O hospital Palma Sola iria fechar, solicitou descredenciamento do SUS: “Eu e o doutor Mauricio Piacentini, compramos o hospital para não fechar. Na época o Nico [Claudiomar Crestani] era prefeito e falou: ‘Vamos transformar isso aqui em algo maior’". Juarez relembra dessa situação e explica que meses depois o empresário Nico, comprou a parte de Juarez e Maurício. “A atitude do Nico foi a salvação para que hoje Palma Sola continue tendo um hospital".
Juarez presa por atender todo paciente que chega até ele, mesmo que a pessoa não tenha condições: “Nós vamos perder uma coisa ou outra, mas depois nós recuperamos. Atendeu de graça hoje, daqui a pouco aparece um particular”.
Segundo ele, mesmo que um paciente seja atendido pelo SUS, essas pessoas têm convênio e atendendo bem, a hora que essa pessoa precisar de algo particular irá pagar a consulta.
Hoje Juarez atende Palma Sola, Flor da Serra do Sul e Anchieta, faz aproximadamente 150 pré-natais por mês e uma média de 20 partos por mês. Além disso, ele realiza três plantões por semana.
 
60% das mulheres preferem cesárea
Juarez comenta que a obstetrícia do Hospital Luke de Palma Sola, está muito organizada, a mulher que fizer o pré-natal com ele, será atendida por ele na hora do parto normal ou da cesárea. “Mais de 60% dos partos que faço são cesáreas, por solicitação da paciente ou por indicação clínica. Agora tem uma lei que a partir da 39ª semana, se estiver tudo bem, é opção da mulher se vai fazer cesárea”, informa Juarez.
De acordo com o médico obstetra, 60% das mulheres que o procuram preferem cesárea, ele comenta que com o avanço da medicina, atualmente, 4 horas após o parto a mulher se alimenta e 36 horas depois, recebe alta hospitalar.
Ele comenta que para uma mulher fazer parto normal precisa ter condição psicológica. “Uma coisa que eu aprendi com o tempo, quando é a sogra a acompanhante ela diz: ‘Não, ela aguenta a dor’, mas quando é a mãe, ela protege a filha e diz: ‘Coitadinha vai sofrer, faça a cesárea’”, comenta Juarez.
 
Primeiro e único óbito em cesárea
Durante os 50 anos de atuação de Juarez, ele teve um óbito e conta que foi de uma mulher de 38 anos, que trabalhava com ele em Aratiba-RS e iria ter seu primeiro filho. Na época ele atendia dois hospitais e quando foi fazer um parto, no outro hospital, lhe chamaram falando que sua colega não estava bem: “Quando voltei, a mãe fez uma embolia pelo líquido amniótico”. Juarez relembra que foi um momento muito difícil de sua carreira, mas que aprendeu a superar.
 
Mais de 18 mil partos
Recentemente num encontro com os colegas de faculdade foi contratado um matemático para calcular quantos partos, cirurgias e consultas o obstetra Juarez fez ao longo dos 50 anos de atuação.
Juarez realizou 18.474 partos normais e cesáreas, aproximadamente 25 mil cirurgias em centro cirúrgico, aproximadamente 42 mil cirurgias ambulatoriais e pelo menos 234 mil consultas. Ele explica que os números são altos, devido ter bastante pacientes de de toda a região. “Tem pessoas que estou atendendo a 3ª geração, atendi a mãe, a filha e agora estou atendendo a neta”, declara Juarez.
 
A aposentadoria não está em pauta
Ao ser questionado se pretende parar algum dia, ele diz que enquanto tiver condições físicas e que esteja saudável pretende seguir. “Não sei quando vou parar. Eu brinco com as enfermeiras, que vou morrer entre uma consulta e outra. Esses dias, eu estava tão cansado de um plantão, me deitei aqui, dormi e apaguei. Como eu não chamava o próximo paciente, as enfermeiras ficaram achando que eu estava morto, ficaram um tempo querendo abrir a porta, mas com medo de me achar morto”, conta Juarez e ri ao lembrar do episódio.
Ele conta que amigos, família e filhos pedem para ele parar com a correria e diminuir o ritmo. Juarez entende que deve diminuir o ritmo, pois há cinco anos teve um infarto, mas ele julga estar bem fisicamente e não sabe se aguentaria ficar sem trabalhar.
Ele comenta que na última semana viu um médico, de 73 anos, trabalhando no SAMU e ele lhe contou que havia sido convencido pela família a se aposentar: “Ele se aposentou e foi morar na praia. Ele disse que aguentou uma semana, levantava, tomava café e não tinha o que fazer e agora está no SAMU de novo”.
 
Juarez sem o estetoscópio
Nas suas poucas horas em casa, Juarez gosta de ler livros, segundo ele tem uma biblioteca em sua casa com 2 mil livros e no momento está lendo o livro: Os Sertões, no original, adquirido num Sebo na Estante Virtual. E a outra coisa que gosta de fazer é tomar vinho com os amigos: “Apesar de eu não beber com frequência, tenho uma adega em casa”.
Torcedor do Atlético Paranaense, ele é apaixonado pelo futebol. Ele comenta que se irrita quando os jogadores estão jogando mal e perdem. É comum gritar e xingar os jogadores. “O que eu gosto é livro, vinho e futebol, assisto qualquer jogo”, declara Juarez.
 
Reconhecimento do Conselho Regional de Medicina
Juarez comenta que ser reconhecido por um paciente é legal e bom, mas quando médicos reconhecem o trabalho de outro profissional é muito gratificante. O conselho Regional de Medicina fiscaliza a conduta de todos os médicos: “Você passar 50 anos atendendo um monte de pessoas e você nunca ser acusado de algum erro, é muito legal”.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná enviou o ofício no 029/003/2024 endereçado a Juarez de Oliveira Pinto – CRM-PR 4133 instituindo o “Diploma de Mérito Ético-Profissional” a ser outorgado a médico regularmente inscrito na jurisdição deste Conselho e que tenha completado 50 anos de formado sem sanção ético-profissional, informando que Juarez foi indicado e aprovado em Sessão Plenária, para receber a referida comenda.
Ele relatou que ao receber a carta ficou nervoso, pensando que seria alguma chamada de atenção, mas que ao abrir ficou contente. A cerimônia será realizada em Curitiba dia 19 de outubro de 2024.


 
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