A suinocultura integrada, modelo adotado por diversas cooperativas para garantir a produção de carne suína em larga escala, enfrenta desafios crescentes. Entre os principais obstáculos estão o receio dos produtores em contrair dívidas para investir na infraestrutura necessária.
Segundo Leonir José Piovezan, gerente comercial da Cooperativa Agroindustrial Alfa de Palma Sola, há vagas disponíveis para novos produtores interessados em ingressar na parceria. No entanto, a procura tem sido baixa. “Tem produtores que não querem fazer dívida, têm medo. Acham que é muita mão de obra. Então, temos vagas, mas poucos estão dispostos a investir”, relata.
No sistema de parceria com a cooperativa Alfa, o produtor é responsável por Construir a pocilga perante projeto entregue pela empresa, pela água, luz, licenciamento ambiental e mão de obra para os manejos necessários dos animais. A cooperativa, por sua vez, arca com os custos com os leitões que chegam à propriedade pesando em média 23 kg, além de custos com ração, medicamentos e assistência técnica e veterinária.
Os suínos são engordados até atingirem a meta atual de 124 kg, variando conforme a demanda do frigorífico. O produtor recebe uma remuneração que pode chegar a R$ 70 por animal, desde que cumpra uma série de critérios estabelecidos no checklist da cooperativa. Entre os fatores avaliados estão o peso padrão dos suínos, a conversão alimentar (quantidade de ração consumida por quilo de peso ganho), a estrutura da pocilga e a presença de sistemas de sombreamento e armazenamento de ração adequados.
“Se o produtor conseguir manter entre 70% e 80% dos suínos dentro de um peso ideal, ele ganha mais. Mas isso exige um manejo cuidadoso. Muitas vezes, em um lote de dez suínos sempre há um menor que fica para trás na disputa pelo alimento. O ideal é separá-los e manejá-los de forma diferenciada para equilibrar os pesos”, explica Leonir.
A falta de novos produtores interessados na integração não é um problema recente. Segundo Piovezan, muitas propriedades possuem pocilgas antigas, que já não oferecem um retorno financeiro satisfatório devido a limitações estruturais. “Algumas tem pé-direito muito baixo, são muito quentes, exigem um investimento alto para modernização. Nessas condições, muitos produtores preferem abandonar a atividade”, observa.
Além disso, o alto custo para construir uma nova estrutura, somado aos juros elevados do financiamento dificulta a adesão de novos parceiros. Quando o produtor demonstra interesse, a cooperativa realiza um estudo econômico e financeiro detalhado para avaliar a viabilidade do projeto.
“Se a propriedade não se sustenta financeiramente, não liberamos vagas. O estudo considera todas as fontes de renda do produtor, leite, grãos, gado, todas as suas dívidas e simula o impacto do financiamento da pocilga no orçamento. Se o resultado for negativo, não adianta seguir em diante, pois o produtor não terá capacidade de pagamento e isso pode gerar problemas, tanto para ele quanto para a cooperativa”, explica.
O custo para construir as pocilgas varia conforme a capacidade instalada. Uma estrutura para 550 suínos custa entre R$ 850 mil e R$ 900 mil. Enquanto um galpão para 1.100 suínos fica na faixa de R$ 1,1 milhão. No entanto, o investimento em uma unidade menor nem sempre compensa, já que os custos fixos, como cisterna, sistema de água, cortinas de ventilação e esterqueira, são praticamente os mesmos para ambas.
“Quando se faz a conta, a estrutura para 1.100 suínos acaba sendo mais vantajosa. O produtor investe quase o mesmo valor, mas terá um retorno financeiro maior. Com um lote de 550 suínos recebendo R$ 70 por animal, ele fatura cerca de R$ 38,5 mil por ciclo. Já com 1.100 suínos, esse valor dobra para R$ 77 mil”, detalha.
Outro fator que limita a entrada de novos produtores na atividade é a necessidade de destinação adequada para os dejetos suínos. A legislação ambiental exige que o produtor tenha áreas suficientes para espalhar os resíduos de maneira sustentável, sem risco de contaminação do solo e da água.
Caso não possua terra suficiente, o produtor precisa contar com vizinhos que cedam matrículas de terrenos para receber o esterco. “Se ele não tem essa possibilidade, a cooperativa não libera a vaga. Além disso, é preciso renovar a licença ambiental a cada quatro anos, um processo burocrático que exige acompanhamento técnico especializado”, afirma.
Atualmente, a cooperativa terceiriza esse serviço para uma empresa que alerta os produtores sobre o vencimento da licença e providencia a documentação necessária para a renovação. “Se o produtor não seguir as normas ambientais, ele pode ter problemas com os órgãos reguladores e comprometer sua produção”, destaca Piovezan.
Hoje, no município de Palma Sola, a cooperativa conta com 113produtores integrados, responsáveis por um plantel anual de 32 mil suínos. A produção é dividida entre diversas propriedades, com capacidades que variam de 550 a 2.000 animais por lote. Em média, cada integrado realiza 2,7 lotes ao ano, com os leitões permanecendo cerca de 105 dias nas pocilgas antes da entrega ao frigorífico.
Apesar das dificuldades, Piovezan afirma que a suinocultura integrada continua sendo uma opção rentável para aqueles que já atuam na atividade. Além do lucro com a engorda dos suínos, muitos produtores utilizam os dejetos como adubo orgânico, aumentando a produtividade de suas lavouras e pastagens.
O desafio é para quem ainda não está na atividade e quer entrar, nestes casos os juros altos são um empecilho para o início das atividades. “Muitos querem entrar, mas poucos conseguem se viabilizar", conclui Piovesan.
Com um cenário de incertezas econômicas e restrições ambientais rigorosas, a suinocultura integrada enfrenta um período desafiador. Enquanto os produtores hesitam em investir, a cooperativa busca alternativas para manter a atividade sustentável e atrativa no longo prazo.