A maternidade é uma das experiências humanas mais profundas, cheia de beleza, mas também de desafios. O jornal Sentinela conversou com seis mães da região onde circula [Palma Sola, Campo Erê, Anchieta, Flor da Serra do Sul, Guarujá do Sul e São José do Cedro], nesta edição iremos abordar a história da guarujaense Franciele Mattuella, que precisou seguir vivendo com o peito partido, após a perda da sua filha.
O amor eterno além da perda
Franciele Mattuella, mais conhecida como Fran, de Guarujá do Sul, se tornou mãe faltando quatro dias para completar 19 anos. Sua primeira filha, Rafaela, popular Rafa, nasceu de uma gestação tranquila, mas logo após o parto enfrentou uma infecção hospitalar que comprometeu seus rins.
Logo em seguida, Rafa foi encaminhada a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e a partir dali a vida de Fran e Rafa se resumia a idas ao Hospital Infantil em Florianópolis (SC). Fran conta que lá elas criaram carinhosamente uma família, criando laços com voluntárias e profissionais do hospital, onde moraram por meses. Mas entre as idas e vindas para casa, Fran engravidou novamente e se tornou mãe de Larissa, popular Lari.
Apesar das dificuldades, sempre destacou o amor, carinho e a cumplicidade que construiu com as filhas. O amor incondicional de uma mãe, não é segredo para ninguém, mas quando a vida rompeu seu ciclo natural, de filhos enterram os pais, a vida de Fran tomou novos sentidos, e como ela mesma relata nunca mais foi a mesma.
Fran relembra que ela, Rafa e Lari, estavam dormindo juntas e ao acordar Rafa, percebeu que a mesma estava com os dedos roxos: “Na hora eu imaginei que ela tivesse desmaiado e corremos para o posto de saúde”. Enquanto Fran aguardava a avaliação médica em prantos e muita preocupação, os enfermeiros e a equipe médica tentavam salvar a vida de Rafaela. Ao ver o médico sair da sala, ela entendeu somente pela expressão facial, que sua primogênita havia morrido: “Eles fecharam o posto para tentar me acalmar. Não foi um momento fácil, até a ficha cair de verdade”.
Rafa faleceu em 2022, com 19 anos e desde então, é como se um pedaço de Fran deixasse de existir. Questionada sobre quem é a mãe Franciele, após a partida da Rafa ela responde com os olhos cheios de lágrimas e um sorriso amarelo, que é uma mãe meia: “É uma mãe com altos e baixos, tem uns dias legais, outros não tão legais, mas a gente vai levando”.
Aos olhos da mãe, Rafa era uma jovem generosa, educada e carinhosa, que retribuía todo o afeto recebido. A relação das duas foi marcada por conversas abertas, apoio mútuo e muitos momentos de alegria, mesmo diante das limitações impostas pela saúde.
A insuficiência renal de Rafaela exigia acompanhamento rigoroso e o uso de diversos medicamentos, mas ela conseguiu levar uma vida próxima à normalidade, formando-se no ensino médio, desfrutando da adolescência, fazendo a carteira de motorista e conquistando seu próprio carro.
A possibilidade de um transplante sempre esteve no horizonte, mas nunca chegou a se concretizar, pois os exames não indicaram a necessidade clínica no momento. Franciele acredita que tudo aconteceu conforme um propósito maior e que a filha viveu seus 19 anos de maneira plena, sem prolongar o sofrimento que uma rejeição de transplante poderia trazer. A morte de Rafaela foi repentina e Franciele esteve ao lado da filha em todos os momentos, desde o nascimento até o último adeus.
A dor da perda é uma marca permanente, especialmente em datas comemorativas e aniversários, quando as lembranças da convivência e do carinho de Rafaela se tornam ainda mais presentes. Fran comenta que a fé foi fundamental para atravessar o luto e encontrar forças para seguir em frente. Ela destaca que nunca perdeu a confiança em Deus, mesmo diante do sofrimento, e aconselha outras mães a manterem a esperança e a fé, mesmo que seja difícil.
Ao Sentinela ela conta que Lari foi o motivo para que ela não desistisse e mesmo que nenhum filho substitua o outro, sua caçula ajuda a preencher, partes do vazio deixado por Rafaela.
Hoje, ela segue trabalhando e dedicando-se à família, mantendo viva a memória da filha e valorizando cada momento ao lado de quem ama. Mesmo com todos os percalços da vida, se sente orgulhosa e realizada em ser mãe.