São em cidades como Palma Sola, Anchieta, Campo Erê, Flor da Serra do Sul, Guarujá e São José do Cedro onde encontramos as nossas festas de comunidade, onde nos reunimos com familiares e amigos. Cito essas cidades, porque são as cidades de circulação da versão impressa do jornal Sentinela.
Essas festas são, antes de tudo, um fio invisível que costura as vidas de quem ali reside, dando forma a uma qualidade de vida que não se mede apenas por índices econômicos, mas por sorrisos compartilhados, jogo de truco, 48 e histórias que vão passando de boca em boca, de geração em geração.
Nas pequenas comunidades, a vida pulsa em outro ritmo: menos pressa, mais presença. As festas locais, seja a festa da padroeira da cidade, ou da comunidade do interior ou ainda aquele churrasco coletivo que reúne vizinhos e parentes distantes, são momentos em que o cotidiano se desdobra em prazer e sentido. Ali, cada detalhe importa.
Os amigos que se reúnem ainda de madrugada, para fazer o fogo, temperar a carne do churrasco, as mulheres que preparam as sobremesas, as saladas e lá pelas 10h da manhã já temos aquele zumbido de pessoas conversando, tomando cerveja e celebrando a amizade. É claro, que no final da tarde, já enebriado pela bebida, acabam acontecendo algumas discussões, coisa que dá e passa, mas é o comentário da semana seguinte...
A infância, nas pequenas comunidades, tem cheiro de pão quente e liberdade. Os filhos dos amigos vêm dormir em casa numa noite qualquer, transformando os lares em redutos de alegria e cumplicidade. Não há cerimônia: todos se conhecem, todos cuidam de todos. A confiança é matéria-prima da convivência, e as crianças crescem aprendendo, pelo exemplo, que o mundo pode ser um lugar seguro e repleto de afeto.
As festas de comunidade, então, são muito mais do que calendário social. São alicerce da saúde emocional, são espaço de inclusão e pertencimento, são escola para as crianças e refúgio para os adultos. Carregam o poder de restaurar ânimos, fortalecer vínculos, ensinar o valor da amizade, da solidariedade e do tempo compartilhado.
Talvez, no fundo, a qualidade de vida que tanto buscamos nas grandes cidades esteja escondida nessas pequenas comunidades, disfarçada de simplicidade e de alegria cotidiana. Talvez a felicidade seja mesmo feita desses pequenos prazeres, dessas festas que celebram não só a colheita ou o padroeiro, mas a vida em sua forma mais autêntica, próxima e verdadeira.
O valor da cachaça e do chimarrão
A grande maioria dos meus amigos é da cerveja, eu sou da cachaça; ela tem aroma, sabor e é preciso saber domá-la, ou ela nos doma, nos derruba e ainda nos enche de vergonha. Ahhh, a tal da cachaça...
Pra mim, no final de tarde, sentar-se com os amigos, com uma cachacinha nas mãos é ritual quase sagrado. As preocupações do dia se dissolvem na conversa fiada, nas risadas altas, no olhar cúmplice de quem compartilhou a mesma colheita, os mesmos verões, as mesmas perdas.
Nas manhãs frias de inverno, o calor vem de dentro, passado de mão em mão numa cuia de chimarrão fumegante. Adultos e crianças se aconchegam na sala, enquanto o tempo lá fora corre devagar. Não é só mate, é laço, é pertencimento. O mate circula, as histórias também. O tempo parece ganhar consistência, e cada gole é uma reafirmação de que ali, naquela roda, todos fazem parte de uma mesma família, mesmo que não compartilhem sangue — mas compartilham chão, sonhos e afetos.
E assim, entre um brinde de cachaça no cair da tarde e uma roda de chimarrão nas manhãs frias, seguimos aprendendo com as pequenas comunidades a grande arte de viver bem: juntos, celebrando o que há de mais humano em nós — o desejo de pertencer e de compartilhar.