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08/10/2020 às 08h48min - Atualizada em 08/10/2020 às 08h48min

A idade sem nome

Coluna de opinião do jornal impresso

Da redação
Quando eu era criança, alguém de 60 anos era considerado “velho”. Minha vó só vestia roupas escuras, meu avô sentava-se numa cadeira o tempo todo, simplesmente esperando a vida passar. Aposentadoria era a regra: os chamados velhos dedicavam-se aos netos, filhos, família. A velhice era vista como um tempo amorfo, entre o fim da vida profissional, a doença e a morte. Tudo mudou. Outro dia vi uma referência a uma clinica para idosos. Espantei-me. Eu já seria candidato a uma vaga!
Essa possibilidade nunca havia passado pela minha cabeça – e continua não passando. Assim como para a maioria dos meus amigos. Caso de Analívia, que desde os 15 anos faz um trabalho de dança inovador e dedica-se a dar palestras nas principais cidades do mundo. Outro amigo dos tempos da escola, Raul, dá aulas de pilates! Minha vizinha, aos 70, oferece aulas de meditação, caminha todos os dias, e tem um namorado boa-pinta. Outro vizinho fala seis línguas e se dedica ao comércio exterior. Todos acima dos 60. Nenhum, eu inclusive, quer deixar de trabalhar.
Por sinal, é uma pergunta que parentes mais jovens fazem frequentemente: “Você não quer descansar?” Acho até divertida. Parar, eu? Se fosse descansar, escreveria, o que já faço como atividade principal.
São as pessoas que se recusam a “envelhecer”. Estão numa nova fase da vida, que vai dos 60 aos 80 e mais. Graças também aos avanços médicos. As etapas da existência só foram diferenciadas pela humanidade ao longo do tempo. O entendimento da adolescência só seria consolidado no século XX. Ainda vai surgir um nome para essa nova fase que vivemos hoje, que não é nem velhice nem terceira idade. Os sessentões e oitentões da atualidade eram adolescentes e jovens na década de 60, tiveram contato com a contracultura e também com os movimentos de esquerda não tradicionais.
Não enxergam a idade como seus pais e avós enxergavam. Cuidam do corpo, entram em cursos, namoram. Boa parte possui uma vida profissional de que gosta – portanto, nem pensar em aposentadoria. Quem se aposentou trata de desfrutar a vida. Quando passeiam ou viajam com os filhos, estão na condição de amigos, companheiros. Muitos querem iniciar algo novo. O precursor dessa tendência talvez tenha sido o próprio Roberto Marinho, que botou a Rede Globo no ar quando tinha 60 anos – idade em que muitos empresários de seu tempo já estavam pendurando as chuteiras.
Falo de pessoas que nasceram antes do advento do computador pessoal, do celular... Mas que hoje sabem o suficiente para trocar e-mails, WhatsApps, assistir a filmes no streaming... Ou seja, estão incorporadas ao universo tecnológico. Talvez as pessoas só se considerem idosas quando os outros as veem como idosas. Não vou falar de plásticas e outros procedimentos- elas fazem também, é claro. E daí?
Em algum momento, essa nova etapa da vida após os 60 e sei lá, além dos 80, vai receber um nome, como a adolescência recebeu um dia. Por enquanto, apenas sabemos que a palavra “velho’ não serve mais para definir essas pessoas. Eu digo por mim: os 60 são os novos 40.

Texto de Walcyr Carrasco
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