19/12/2020 às 10h53min - Atualizada em 19/12/2020 às 10h53min

Um Natal diferente, mas com o amor de sempre

Um Natal com máscara, álcool gel, sem abraços e beijos, com o devido distanciamento e com número reduzido de amigos e familiares

Da redação
O casal Moises e Tatiane se conhecem há mais de 14 anos. Ambos vêm de família humilde, se conheceram e se casaram em Santa Maria – RS. O sonho de Moises Dutra de Carvalho era fazer medicina, e foi ao lado da companheira Tati que conseguiu concluir a graduação ainda no ano de 2015.
Foi um período difícil, de dinheirinho contato, trabalhando na própria faculdade para facilitar os estudos. Moises e Tatiane se casaram, em 6 de abril de 2007, três anos depois nasceu o primeiro filho, Benjamim, hoje com 10 anos e depois Arthur, 7 anos. Em janeiro de 2016 vieram para Palma Sola, sabiam que por aqui havia emprego; um amigo mórmon, Elton Nunes, garantiu a eles que aqui era um bom lugar para se morar e constituir família. Tatiane estava grávida novamente, dos gêmeos Abraão e Eliza, que nasceram em Palma Sola e hoje estão com 4 anos.
Nestes cinco anos, Moises também trabalhou e residiu em Salgado Filho, mas como havia passado num concurso para ser médico em um dos ESFs de Palma Sola, acabou voltando para o município catarinense. Aqui fizeram amigos, criaram rotinas da família, as crianças além de estudar da rede municipal, praticavam natação, futsal, kung-fu, entre outras atividades. Tatiane sempre uma mãe zelosa, se dedica ao cuidado e a educação dos quatro filhos. A família é membro da igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecidos como mórmons.
Tudo mudou de março para cá, assim foi no Brasil inteiro quando foram registrados os primeiros casos de Covid-19 e os primeiros óbitos. No Brasil, já são mais de 7 milhões de casos e 185 mil mortes. Em Palma Sola, município de apenas 7.200 habitantes, são mais de 250 casos e 3 óbitos. Moises é mais um profissional da saúde que está na linha de frente, seguramente já diagnosticou mais de 80 pessoas com Covid só em Palma Sola. É o único médico que atende no Posto de Saúde que ainda não se infectou.
Para a família de Moises, como para todas as famílias do planeta, o ano de 2020 foi diferente. Hoje é difícil a família que não teve alguém infectado e cada vez é mais comum o número de mortos por Covid entre os núcleos familiares. A tão esperada vacina que promete imunizar a população já começou a ser aplicada na Europa e Estados Unidos, no Brasil a expectativa é para janeiro.
 
Sentinela: Você está na linha de frente, como foi lidar com a pandemia e o medo de transmitir a doença para um familiar?
Moises: No começo a gente tinha muito medo. Eu saia do trabalho, chegava em casa e ia direto para o banho. Me sentia mal porque chegava em casa, meus filhos vinham correndo me abraçar e eu não podia. Eu e a Tati chegamos a cogitar de eu ir morar numa pousada ou alugar uma outra casa por um tempo. Foi assim por uns dois meses, depois fomos aprendendo a lidar com a pandemia.
 
Sentinela: O que mudou?
Moises: Pra mim a maior mudança foi a de higienização e a maneira de cumprimentar. Acredito que pra uma parcela significativa da sociedade haverá uma mudança cultural na maneira de cumprimentar, a partir de agora com mais acenos e menos cumprimento de mãos e beijinhos.
Meus pais e os pais da Tati moram no Rio Grande do Sul, então esta parte do convívio próximo a familiares que estão nos grupos de risco foi menor. É claro que até a chegada do Coronavírus nos víamos com mais frequência. Depois da pandemia nos vimos apenas duas vezes, em agosto fomos levar as crianças até os avós em Passo Fundo e Santa Maria e agora em outubro eles vieram nos ver. Todos sentimos falta.
 
Sentinela: Vocês são mórmons, sentem falta da igreja?
Tatiane: O termo adequado não é exatamente mórmon, nós somos membros da igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, popularmente conhecidos como mórmons. Todos os domingos nós frequentamos a igreja em Francisco Beltrão e desde março não vamos mais até a igreja, é claro que sentimos falta, especialmente do convívio com os irmãos, das aulas e de estar na igreja.
Moises: Homens membros da igreja, como eu, possuímos o sacerdócio, ou seja, temos o poder de abençoar e administrar a ordenança. Então todos os domingos nós nos reunimos ao redor da mesa de jantar e ali eu abençoo a água e o pão, [simbolizando o sangue e corpo de Cristo], fizemos nossas orações, cantamos alguns hinos, partilhamos o que aprendemos durante a semana. Com isto suprimos parte da nossa rotina dos domingos; mas é claro que não é a mesma coisa de estar na igreja.
 
Sentinela: E em casa, em família as coisas continuam normais agora?
Benjamim: A mãe está mais brava neste período. Eu sinto falta dos meus amigos, sem as aulas a gente não se vê. Não posso ir na casa deles e eles não podem vir aqui.
Tatiane: Não vejo a hora que tudo volte ao normal. Adoro ficar com meus filhos, cuidar, educar, tudo, mas tem hora que quatro filhos cansa, ainda mais sem as atividades que eles costumavam fazer.
Moises: Às vezes nas férias, quando fico vários dias com todos, chega a dar saudade do trabalho. [Risos] Quem tem família sabe como é, e quem tem, não troca por nada.
 
Sentinela: Então 2020 foi um ano muito diferente?
Moises: Com certeza, um ano muitíssimo diferente. Trabalho no posto e dou plantão no hospital, é angustiante a incerteza de ter pegou ou não o Covid. A cada 10 dias somos testados pra ver se tivemos contato ou não com a doença. Muitos dos meus colegas foram infectados pelo coronavírus.
 
Sentinela: O Natal de vocês vai ser diferente?
Moises: Vai. Será em Santa Maria na casa dos meus pais. Intercalamos, um ano na casa dos meus pais, noutro na casa dos pais da Tati. Mas normalmente reunimos mais de 40 pessoas para a ceia de Natal, este ano acho que vai dar 9 pessoas.
 
Sentinela: Qual foi o aprendizado com o Covid-19?
Moises e Tatiane: Na igreja e com as nossas famílias de origem aprendemos que é preciso fortalecer o núcleo familiar rotineiramente. Com a chegada desta pandemia isto ficou ainda mais evidente; dia a dia é preciso reforçar os valores familiares. Durante a pandemia os cartórios registraram recordes de separações, muitos casais não conseguiram conviver mais tempo juntos. É uma pena, sinal que falta fortalecer este núcleo familiar.
Tatiane: Dias atrás eu e o Moises montamos junto um quebra-cabeças enorme, eu adorei aquele momento, foi único, aproveitei como pude não sei quando vou ter outro. Vai ser um Natal diferente, mas com o amor de sempre.
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