Para entrar na História

Coluna de opinião do jornal impresso

18/01/2021 14h32 - Atualizado em 18/01/2021 às 14h32
Alguns anos são tão intensos que se tornaram um marco na história da humanidade. Foi assim, por exemplo, em 1968, em que foi “proibido proibir”, a temporada das grandes manifestações de rua, do grito pelos direitos civis e pela liberdade sexual das mulheres. Foi assim em 1989, para ficarmos apenas no século XX, com a avalanche de derrocadas dos países-satélites da União Soviética, depois da queda do Muro de Berlim. Por seu aspecto trágico e pelo impacto gerado na vida de bilhões de pessoas, o ano de 2020 fará parte desse grupo. Ele terminou com a triste contagem de mais de 1,7 milhões de mortes em decorrência do Covid-19, quase 190 mil somente no Brasil.
Com uma intensidade inédita, a pandemia fez ruir as economias ao pôr populações inteiras dentro de casa em quarentena. Reinventou também o trabalho, levando a reuniões por videoconferência, e os relacionamentos, ao forçar o distanciamento social. Em paralelo, a disseminação do novo Coronavírus foi o pano de fundo de dois outros movimentos que marcaram os últimos doze meses. O primeiro deles: a violência racista, cujo triste ápice foi o assassinato do negro americano George Floyd, asfixiado pelo joelho de um policial branco, em maio, depois repetido no Brasil, em novembro com a morte de João Alberto Freitas em um supermercado no Rio Grande do Sul.
O segundo grande risco pôs em questão a própria democracia, com o erguer de vozes populistas, que desdenharam vergonhosamente da ciência na luta contra o Covid-19 e desafiaram a escolha popular, como fez Donald Trump até quando pôde nos Estados Unidos. Mas, vencido 2020, é possível sublinhar, sim, que, apesar de tudo, apesar das mortes, apesar das posturas equivocadas de quem grita até contra a vacinação, há caminhos de esperança. Nos Estados Unidos, a eleição de Joe Biden foi sacramentada.
No Brasil, embora a política tenha patinado, com arroubos desnecessários do presidente Jair Bolsonaro, as instituições sobreviveram valentemente – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário continuam a cumprir suas missões originais. Parecem ter tomado doses suficientes de vacinas que os imunizaram contra autoritarismo, a maior ameaça dessa doença desde a reabertura democrática e a Constituição de 1988.
Tal equilíbrio, importante ressaltar, será crucial para que o país volte a crescer e gere prosperidade a seus cidadãos. Em sua grande maioria, os brasileiros reafirmaram essa postura ao se afastar nas eleições municipais dos candidatos mais radicais e que navegam no ódio fácil das redes sociais. O caminho do meio e do bom senso deve sempre prevalecer – é o que se espera de 2021, ano que se inicia à sombra da pandemia, mas agora com a luminosa estrada aberta pelo tão aguardado frasco de vacina.
 
Texto – Revista Veja
Por [email protected]
FONTE: Da redação
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