13/05/2023 às 11h17min - Atualizada em 13/05/2023 às 11h17min

Quem é rico no Brasil?

Coluna de opinião do jornal impresso

Igor Vissoto
Assisti um documentário da BBC News que faz e responde a seguinte indagação: Afinal, quem está no topo da pirâmide da riqueza no Brasil?
Se você tivesse que dizer onde se encaixa na pirâmide da riqueza do Brasil, responderia o quê? Entre os 10% mais ricos, entre os 10% mais pobres... ali no meio! Afinal quem é rico?
O documentário apresentado por Camila Veras Mota explica quem está no topo da pirâmide e porquê tanta gente acha que não faz parte dele.
Segundo pesquisa do IBGE, com os dados mais recentes que são de 2019 as médias são as seguintes:
- A renda mensal do 1% mais rico é de R$ 28.659,00;
- A renda média dos 5% mais ricos é de R$ 10.313,00;
- A renda média dos 10% mais ricos é de R$ 5.429,00;
A base da pirâmide é relativamente homogênea:
- 80% dos brasileiros têm renda inferior a R$ 3.400,00;
- 60% dos brasileiros ganham mensalmente R$ 1.871,00;
Já o topo da pirâmide é bastante heterogêneo e por isto bastante gente acha que não está ali dentro. Com base nos dados apontados pelo IBGE de R$ 28 mil o grupo dos 1% mais ricos inclui desde alguns profissionais liberais como advogados, médicos, engenheiros, construtores e a elite do funcionalismo público: promotores, procuradores auditores da receita; a empresários, artistas e finalmente aos milionários e bilionários que aparecem nas listas dos mais ricos do país.
 
Percepção X Realidade
Como o Brasil é um país em que muita gente vive com muito pouco, para se estar entre os mais ricos não é preciso tanto. Mas o aparente descolamento entre percepção e realidade não é exclusividade do Brasil.
A BBC conversou com uma economista turca Asli Cansunar que é estudiosa do tema e professora de ciência política na universidade de Washington nos Estados Unidos e ela comentou que em diversos países quando questionadas onde se encaixam na distribuição de renda as pessoas dizem que se encaixam no meio; ou seja, nem rico, nem pobre.
Asli Cansunar:
Ninguém nos ensina sobre isto, não chegamos a ler sobre nós mesmos no jornal. Estas são questões técnicas que são difíceis de entender por pessoas que não tem conhecimento sobre estatística ou matemática ou economia. Então a maneira como geramos informação quando nos falta a informação factual é olhando ao nosso redor, vendo pessoas, amigos, ou aqueles que vemos na TV, e agora cada vez mais no  Instagram, Youtube. Na ausência de informação factual, a forma como geramos informação é olhando para essas pessoas ao nosso redor e nos comparando a elas.
Grosseiramente a ideia aqui é a seguinte: Se eu olho ao meu redor e percebo que se não tenho uma mansão, não tenho uma casa na praia e não ando de carro importado, definitivamente não estou no topo da pirâmide econômica. Mas não é isto que os números mostram!
Para além das percepções individuais a própria noção de riqueza é subjetiva. Não existe um consenso acadêmico sobre o que seria uma linha de riqueza. Ser rico é ter dinheiro suficiente para poder para de trabalhar? É morar em determinado bairro da cidade? É conseguir viver nas férias todo ano? Jantar no restaurante que você quiser? Ganhar um determinado salário em uma região do país te dá um poder de compra que poder ser bem menor em outra.
A pirâmide de rendimentos não contabiliza a riqueza estocada em patrimônio, recebida em herança; apesar dos especialistas reforçarem que ela é importante para medir desigualdade. A do IBGE usa as pesquisas domiciliares do instituto, mas outras metodologias incluem dados do imposto de renda para tentar medir melhor quem está no topo.
Isto porquê a pesquisa do IBGE é aquela em que o recenseador conversa com o entrevistado e tradicionalmente os mais ricos tendem a informar valores menores de renda. Seja por uma questão ligada a segurança, constrangimento ou porque realmente não sabem quanto ganham.
Já no caso do I.R. os contribuintes são obrigados a informar à Receita Federal quanto ganham de salário e quanto tem em aplicações financeiras e é por isto que as faixas médias de renda no topo da pirâmide tendem a ser maiores nesta segunda metodologia.
Um dos especialistas que faz este cálculo usando a base de dados do I.R. é o pesquisador do Ipea, Pedro Ferreira, autor do livro: Uma história da desigualdade. Os dados levantados por este pesquisador ganhador do prêmio Jabutí em 2019 apontam que:
- A renda dos 10% mais ricos vão de R$ 4.500,00 pra cima;
- A renda dos 1% mais ricos vão de R$ 22.650,00 pra cima;
Definição de riqueza do pesquisador do Ipea, Pedro Ferreira de Souza:
Acho que a desigualdade em si, no nível extremo como o brasileiro tem diversas consequências negativas, então, entender quem é rico e quem é pobre tem que ser a partir da desigualdade. Onde está a concentração de renda que torna o Brasil muito diferente da Europa? Tá no topo! É aqueles 1%, 5% mais ricos, talvez em algum grau se possa falar que são os 10% mais ricos. Mas a concentração de riqueza mesmo está bem no topo desta pirâmide.
Esta discussão é importante para entender quem tem mais; nos ajuda a pensar em políticas públicas voltadas para melhorar o bem estar de quem tem menos, como financiamento de serviços públicos e de transporte e reduzir a pobreza. Basicamente tributar onde há mais dinheiro concentrado e distribuí-lo onde há mais necessidades. Isto é o mais razoável.

Por: Igor Vissoto

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