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13/10/2023 às 11h30min - Atualizada em 13/10/2023 às 11h30min

Doando vida

Conheça a história de Cláudio Motta, o advogado de 66 anos que passou por um transplante de fígado que salvou sua vida

Redação
Claudio Motta junto da esposa Vanilde. (Foto: Sofia Bertolin)
O advogado aposentado, Cláudio Roberto Barbosa Motta, de 66 anos, mora no município de Anchieta. Há um ano e cinco meses ele recebeu um transplante de fígado. Cláudio é natural de São Miguel do Oeste, mas mora em Anchieta desde 1994. Ele foi o segundo advogado da comarca. Casado com Vanilde e pai de Mônica, ele precisou passar pelo transplante após ser diagnosticado com ferritina e gordura no fígado. “Eu tinha cirrose crônica, mas não por conta do álcool, foi excesso de medicamentos, alimentação, a gordura do fígado e a ferritina. Várias pequenas coisas que juntas se tornaram um problema”, informa Cláudio.
 
O começo
Há cerca de 15 anos, Motta foi ao Hospital de Anchieta, por conta de um pique de pressão. Lá ele foi atendido pelo médico Juarez Pinto. “Quando ele foi para Guaraciaba e depois para Palma Sola, comecei a me tratar com a médica Débora Campello, uma especialista gastroenterologista. Por conta de problemas no fígado e estômago”, relata ele. Há época, Débora informou que ele estava com gordura no fígado no estágio II, e que, se chegasse no estágio IV, seria necessário um transplante.
Além da gordura, Motta desenvolveu a ferritina [acúmulo dos estoques de ferro no corpo do indivíduo]. Após vários exames, inclusive três endoscopias, Cláudio foi orientado a cuidar mais da alimentação, principalmente para controlar a ferritina. “Foram seis anos de tratamento e a ferritina sempre lá em cima, em 600 ou 700. Então passei a fazer sangrias”. Nos dois últimos anos em que fez tratamento Motta esteve na fila do SUS, à espera de um novo fígado.
A sangria terapêutica é um processo pelo qual é retirada uma quantidade de sangue do paciente, entre 400 e 500 mililitros, com a finalidade de extrair algumas substâncias do organismo. O principal objetivo é controlar o aumento das células vermelhas do sangue e reduzir o conteúdo total de ferro nas situações de acúmulo de ferro. Cláudio realizava os procedimentos via SUS, no Hospital Regional de São Miguel do Oeste. A ferritina baixava, mas após alguns meses voltava a subir.
Em dezembro de 2021, Motta e a esposa foram visitar a filha Mônica em Balneário, para passar o natal e o ano novo. “Antes de irmos eu já sentia dores no estômago, há cada 15 dias ia até o posto ou hospital tomar soro e remédios, que acalmava a dor. Ali, durante as festas, atacou de novo o estômago. Fiquei amarelo. Tomei uma medicação, conforme indicou um familiar meu, que é médico. A dor aliviou, mas o amarelão não passava.
O casal voltou para casa em cinco de janeiro, após pernoitar em Chapecó, eles chegaram em Anchieta. Motta continuava ruim e amarelo, após idas ao hospital e ao posto de saúde, ele foi encaminhado para o Hospital Regional, retornando para casa após oito dias de internação na enfermaria, mas Cláudio não estava melhor e foi encaminhado para uma consulta no hospital Santa Isabel, em Blumenau.
“No decorrer dos anos em que me tratei com a médica Débora, fiz vários exames em Blumenau. O meu agendamento ficou para 23 de março, chegamos no dia 20 e voltamos para casa após seis meses. Depois da consulta fomos a Balneário, então eu comecei a ficar fora de mim”, afirma. “Ele queria ir trabalhar e saía, não lembrava quantos filhos tinha, nem quem era a mãe dele”, informa a esposa Vanilde.
A família retornou a Blumenau e no dia 11 de abril Cláudio foi internado e diagnosticado com encefalopatia, uma deterioração da função cerebral que ocorre porque substâncias tóxicas, normalmente eliminadas pelo fígado, se acumulam no sangue e chegam ao cérebro. Pela gravidade da situação Motta ficou de sobreaviso, quando um órgão chegasse, ele receberia o transplante. Cláudio estava na fila de espera do SUS, aguardando um fígado há dois anos. Quando viram que sua situação era gravíssima, ele foi passado para frente.
Motta e esposa aguardaram de sobreaviso na casa da filha em Balneário até o dia nove de maio, quando receberam uma ligação do Hospital Santa Izabel. Um fígado estava disponível. No dia 10, às 11h30, Motta entrou no centro cirúrgico e saiu às 19h30. “Lembro de o médico me mandar contar até três e eu apaguei. Depois de uns dias me lembro de estar no quarto.
Motta recebeu o fígado de um rapaz de 23 anos que sofreu um acidente de Uber. O motorista perdeu o controle do carro e bateu em uma árvore, o rapaz bateu a cabeça e teve morte cerebral. Com carteirinha de doador de órgãos ele doou fígado, rins, coração, córneas, tudo.
“Acho que todos deveriam fazer isso para doar os órgãos. É uma coisa que vai apodrecer e assim, pelo menos alguém vai continuar vivendo”. A fala é de Vanilde, que esteve ao lado de Motta antes e depois da cirurgia, ela lembra com emoção de um outro homem, que recebeu transplante de rins: “Ele teve uma intoxicação após consumir camarão, de uma hora para outra ficou à beira da morte. Nunca vou esquecer da felicidade dele ao receber a notícia de que tinha um doador. Ele abraçou o médico, agradeceu e chorou de felicidade. Receber a doação é receber vida nova”, enfatizou.
 
Recuperação e novo desafio
Após a operação eram realizados exames de sangue diários, além do consumo de medicamentos para evitar a rejeição do novo fígado. No dia 23 de maio ele recebeu alta. Aos poucos, conforme o novo fígado trabalhava, apresentou melhora da encefalopatia.
“Alugamos uma quitinete em Blumenau e ficamos por lá. Até eu começar a ter dores na perna. Contraí uma bactéria. Voltei ao hospital no dia 11 de junho e os médicos me internaram. Estava no auge da pandemia, eu com a imunidade baixa, usando máscara direto, todo cuidado, álcool em gel, então não se sabe de onde contraí a bactéria. A internação durou 31 dias. Nesse tempo foi muito remédio, tive diagnóstico de diabetes e recebia aplicações de insulina. Chegamos a fazer uma biópsia do fígado transplantado, para saber se eu não estava com rejeição, já que mesmo com todos os exames e remédios, eu continuava com a bactéria. Foi um mês até que começasse a melhorar e ganhar alta no dia 11 de julho”, descreve Cláudio.
No mês de setembro Cláudio e Vanilde retornaram para casa, onde os cuidados pós-transplante continuaram. Motta ficou um ano isolado em casa, sem poder levantar peso, e passou a tomar medicamentos para evitar que o corpo rejeitasse o fígado. Agora, dois anos após o transplante, ele tem consultas em Blumenau a cada quatro meses e se prepara para uma cirurgia de hérnia. “Todo transplantado cria uma hérnia, eu estou com uma hérnia de 10,5 centímetros e preciso fazer uma cirurgia para colocar tudo no lugar. A musculatura está solta então a barriga fica flácida”, relata.
Atualmente, Cláudio vive uma vida normal, exceto pelo uso de uma cinta que sustenta sua barriga e pelo uso dos medicamentos contra rejeição. Ele faz atividades físicas diariamente e leva uma vida saudável.
“É importante doar porque isso salva vidas. Santa Catarina é referência de transplante e doadores segundo o que o Hospital Santa Isabel nos informou, acredito que todos deveriam ter uma carteirinha de doador, assim como temos a carteirinha do SUS”, finaliza.


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