Os Jogos Infantis do Sudoeste do Paraná (JIMSOP’s) são, por essência, um celeiro de valores: respeito, superação e, acima de tudo, formação cidadã. No entanto, a edição de 2025, sediada em Flor da Serra do Sul, terminou com uma mancha que não deveria pertencer ao esporte infantil – muito menos à conduta de um gestor público.
O episódio envolvendo o prefeito Valmor Felipe Junior, acusado de participar de agressões verbais contra um goleiro de 11 anos, é mais do que um deslize: é uma lição sobre o peso da autoridade e o exemplo que um líder municipal deve carregar. Não se trata apenas de quem ganha ou perde uma partida, mas de qual mensagem é transmitida quando uma figura pública, que deveria zelar pelo respeito e pela harmonia, se vê no centro de um conflito que traumatizou crianças.
Um prefeito não é apenas um administrador; é um estadista em escala local. Suas ações reverberam, moldam a cultura da cidade e influenciam, para o bem ou para o mal, o comportamento da população. Se torcedores exaltados ultrapassam os limites, cabe ao gestor conter os ânimos, não se misturar à gritaria. Ele poderia ter escolhido não estar naquele local, assim quem sabe teria contido o próprio ânimo que foi flagrantemente registrado pela Rádio Alegria FSS 104.9 que transmitiu o jogo. Nas imagens fica evidente tanto a sua torcida, quando as gesticulações para que algumas pessoas se afastassem. Se há suspeitas de parcialidade na arbitragem, é papel da organização – e, por extensão, da liderança municipal – garantir transparência.
O esporte infantil existe para ensinar, não para humilhar. Quando pais e técnicos precisam retirar crianças de uma quadra para protegê-las de insultos, algo falhou gravemente. E quando um prefeito é apontado como parte do problema, em vez de solução, esse fracasso é ainda mais grave.
Não basta negar as acusações ou minimizar o ocorrido como um "mal-entendido". Um verdadeiro líder assume responsabilidade, promove diálogo e, se necessário, pede desculpas publicamente. O respeito às crianças adversárias, o estímulo ao jogo limpo e a mediação de conflitos deveriam ser prioridades inegociáveis para qualquer autoridade presente em um evento como esse.
Que este caso sirva de reflexão não apenas para Flor da Serra do Sul, mas para todos os municípios: o poder público deve ser o primeiro a dar o exemplo. Afinal, se queremos formar cidadãos éticos, precisamos começar mostrando que a ética não é discurso – é prática. E isso começa no topo.
O papel do jornalismo
Nesse contexto, o papel do jornalismo local é fundamental. Um veículo como o jornal Sentinela do Oeste cumpre sua missão ao investigar os fatos, ouvir ambos os lados e trazer à tona um debate necessário, como o que pode ser lido na matéria da página 15 da edição digital desta semana e também no nosso portal de notícias do endereço: https://sentineladooeste.com.br/noticia/9622/final-polemica-jimsops-2025-gera-repercussao-municipios#google_vignette . Em tempos em que o poder público muitas vezes tenta controlar narrativas, a imprensa regional tem a obrigação de noticiar com isenção – e, quando for o caso, se posicionar com firmeza.
Se um jornal se cala por medo de retaliações ou por conveniências políticas, falha com sua razão de existir. A censura não surge apenas de decretos autoritários; ela também se esconde em acordos velados, em pressões econômicas ou no medo de perder acesso a fontes oficiais.