Depois de 20 anos trabalhando com relações familiares eu conheço as dores de cada uma das mães solo, o que muda é um detalhe: umas tem rede de apoio, e outras não tem absolutamente ninguém para contar.
Amor, carinho, dedicação, proteção, apoio, ternura, todas essas palavras descrevem o que é ser mãe e nessa semana, vamos ouvir muito essas palavras. Mas do outro lado, temos a dor invisível, a rejeição, os abusos, o tempo a carreira, a sobrecarga emocional, que ninguém vai falar. Porque afinal, você escolheu ser mãe, agora aguenta.
Portanto, dia das mães é dia de reflexão também. E nesse dia das mães, quero falar das mães solos e daquelas que mesmo casadas sentem que a balança ainda está desiquilibrada.
Segundo dados do IBGE crescem as residências de mães solo no Brasil. Aquelas que são chefes de família, educam os filhos, cuidam do lar e trabalham fora. O último censo de 2022, teve um aumento de 17,8% em relação a 2012, chegando a 11,3 milhões de lares monoparental, ou seja, 15 % dos lares brasileiros hoje é composto por uma mãe e seus filhos.
Em pesquisa ainda mais intrigante do Datafolha que aponta que 44% das mães solo sobrevivem com até um salário mínimo por mês. Entre as mães casadas esse índice diminui pela metade (22%).
Papa Francisco disse: “não existe mãe solteira, mãe não é estado civil”. Esta frase foi dita para combater o preconceito que reverbera, porque a mesma sociedade que julga a mãe solteira, enobrece o pai solteiro.
A ausência de um companheiro pode gerar sentimento de solidão, medo, angustia, vergonha, além de aumentar a dificuldade em conciliar trabalho, estudo e maternidade, sem contar a violência psicológica do pai da criança que exige tudo e colabora pouco.
A rotina da mãe solo é sentir medo de não dar conta da missão de criar esse filho que mudou a vida por completo.
Certo dia uma cliente me disse: “Por mais que tenhamos consciência de que o futuro não nos pertence, a gente tem medo de pensar nesse futuro”.
É que muitas vezes, essas mães tem a sensação de que não estão dando conta nem delas mesmas, mas tem ali uma vidinha indefesa sob a sua responsabilidade.
Essas mães têm medo por todos os lados. Medo de suas feridas emocionais ferirem seus filhos; medo do abandono/ausência paterna causar uma sequela irreversível na vida adulta do filho; medo dessa criança se sentir inferior às outras por não ter um pai que a busque na escola; que não a leve ao parquinho.
Ainda tem a dor invisível do julgamento, de lidar com perguntas inconvenientes, de ver um filho crescendo sem um pai que ele merece ter. Dor de ver esse pai dando amor a outros filhos ou enteados, enquanto o seu está esquecido.
Mães solos, são mães que trabalham fora, que sustentam o lar, educam os filhos, adormecem ao lado dos filhos na cama, fazem tarefas, vão nas reuniões escolares, e nunca são suficientes.
Do outro lado, tem um pai solteiro, que chega atrasado nas visitas a cada 15 dias, que desmarca em cima da hora o passeio, que reclama quando não veio o remédio, as fraldas, a roupa limpa na sacola, que desabonam a educação dos filhos, que acham que 30% do SM é suficiente para manter um filho, que torcem o nariz quando a ex-companheira encontra um novo parceiro, que deixam de pagar a pensão por bel prazer, e ainda, continuam investindo nas profissões e ganham mais, e maquiam seus rendimentos para não aumentar o valor da pensão, porque no fundo, culpam as mulheres pelo fracasso da relação e não conseguem olhar para os próprios erros.
O problema dos pais que “pagam a pensão, mas reclamam” não é exatamente o compromisso financeiro regular, mas a indisposição que a pensão causa ao entregar o seu poder econômico a pessoa a quem ele não suporta a ideia de estar em qualquer posição superior à dele, a mãe.
Nesse dia das mães eu só quero dizer que vocês merecem o mundo. Continuem sendo maravilhosas, porque Deus olha por vocês, todos os dias.