Eloyr do Posto: Um homem simples, batalhador e de coração gigante

O Sentinela relembra a história de Eloyr Casotti, ou Eloyr do Posto, como era conhecido em Anchieta. Eloyr faleceu aos 79 anos e deixou um legado de honestidade e simplicidade

Ruthe Kezia - Anchieta
22/08/2025 08h00 - Atualizado há 12 horas
Eloyr do Posto: Um homem simples, batalhador e de coração gigante
A rotina de Eloyr Casotti era simples, mas cheia da presença de bons amigos e boas risadas. Uma das coisas que Eloyr gostava de fazer, era ir ao sítio e pescar. (Foto: Divulgação)

No coração de Anchieta, poucas figuras foram tão conhecidas e queridas quanto Eloyr Luiz Segabinazzi Casotti, o famoso Eloyr do Posto, ou simplesmente “Chefe”, como amigos e funcionários o chamavam. Mais que um empresário, ele foi um homem de hábitos simples, coração gigante e presença marcante na vida da família, comunidade e dos funcionários. Nesta edição, o jornal Sentinela traz a história de Eloyr, um grande esposo, pai, amigo e empresário, que deixou muito mais que um negócio consolidado: deixou um legado de trabalho, honestidade, simplicidade e amor pela família.

Filho de agricultores, Eloyr nasceu no dia 8 de abril de 1946, em Giruá-RS. Ele cresceu ajudando na roça e, como era comum na época, deixou a escola bem cedo para auxiliar a família no trabalho. Na adolescência, mudou-se com os pais para Tenente Portela-RS, continuando a vida na agricultura. Ao completar 18 anos, serviu o Exército em São Borja-RS, onde fortaleceu valores como disciplina e compromisso.

Foi em Tenente Portela que conheceu a mulher que se tornaria sua companheira de toda a vida. O início do namoro não foi fácil, os pais dela não aprovavam a relação, mas o amor falou mais alto e, apesar das dificuldades financeiras, se casaram e começaram a vida juntos, trabalhando no campo. Tempo depois, nasceu a primeira filha do casal.

 

O sonho no Mato Grosso

Com a onda migratória da década de 1970, Eloyr e a esposa decidiram investir em terras no Mato Grosso, na região de Canarana. O desafio foi enorme: abrir estradas, viver em barracos e construir com as próprias mãos, a estrutura da propriedade.

O esforço valeu a pena. Com o tempo, a fazenda foi estruturada, ganharam maquinário e viveram anos produtivos. Em 1977, a família Casotti aumentou e nasceu o segundo filho do casal, Robson Casotti. Ainda assim, o desejo de retornar ao Sul, estar mais próximo da família, foi crescendo, especialmente no coração da esposa de Eloyr.

 

De agricultor a comerciante em Anchieta

Em 1985, surgiu a oportunidade de trocar as terras no Mato Grosso por postos de combustível, atual Posto de Combustível Potencial [popular Posto Avenida], em Anchieta. O negócio foi feito em forma de escambo, sem envolver dinheiro. Eloyr deixou a agricultura e passou a atuar no comércio, sem nenhuma experiência no ramo. O filho conta que seu pai veio para Anchieta com a cara e com a coragem e aos poucos foi fazendo novos amigos e aprendendo o novo ramo empresarial.

Trabalhou inicialmente em sociedade com um cunhado, até que, com o tempo, adquiriu outro posto e assumiu o comando. Foram quatro décadas à frente dos negócios, sempre mantendo contato direto com os clientes, cumprimentando e atendendo pessoalmente. A figura do “Eloyr do Posto” tornou-se conhecida e respeitada em todo o município e região.

 

Um homem presente em casa e na comunidade

Meu pai era um cara bem calmo, difícil de tirar do sério, mas firme quando precisava”, recorda Robson. Eloyr tinha um coração enorme e compreendia as dificuldades alheias, ajudando clientes e funcionários sempre que podia. Era também cauteloso e observador nos negócios, ensinando pelo exemplo.

O convívio entre pai e filho era intenso: “Mesmo quando eu assumi a administração dos postos, sempre quis ele junto, pelas experiências e pela forma como analisava as coisas”, destaca Robson.

Conhecido por sua alegria, disposição e espírito acolhedor, o Eloyr do Posto era presença marcante no dia a dia da cidade. Mesmo após passar a administração para seu filho mais novo, ele continuava diariamente nos postos fazendo o que mais gostava, atender e estar em contato com o povo anchietense. Sempre atento aos acontecimentos locais, era um cidadão participativo, dono de um bom papo, de risadas fáceis e de uma energia que cativava a todos ao seu redor.

Mas o posto não era sua única marca. Aos domingos, Eloyr assumia a churrasqueira de sua casa e reunia a família e amigos para comer uma carninha. Gostava do sítio, de pescar, de jogar baralho aos sábados e de aproveitar as coisas simples. Além disso, esteve presente na comunidade, onde participou por um tempo da diretoria do conselho da igreja matriz e de ações coletivas.

 

A amizade de uma vida inteira

Darci Damo, popular Kiko, funcionário mais antigo do Posto Avenida, e amigo de Eloyr há 40 anos, resume: “Foi um patrão muito especial, um bom colega e amigo. Para mim, essa perda foi como perder um da família”.

Quando Eloyr comprou o posto de combustível, Kiko já trabalhava ali. A partir disso, eles estreitaram os laços e construíram uma amizade. Em meados de 1987, Kiko saiu da empresa e foi morar no interior, porém isso não foi um fator impeditivo para a amizade dos dois, que frequentemente se visitavam.

Em 1997 Kiko voltou a trabalhar no Posto Avenida, e como o mesmo diz, foi recebido de braços abertos pelo seu grande amigo. Darci conta que além de amigo, Eloyr era como um pai em sua vida. Juntos desfrutaram de bons momentos juntos, jogando baralho, pescando, conversando e compartilhando de boas risadas.

Questionado sobre o principal aprendizado durante os 40 anos de amizade, ele destaca que aprendeu muito sobre a honestidade e a levar a vida de uma maneira mais leve. “Ele era um cara divertido, sempre alegre, assobiando, brincando com todo mundo, nunca tinha tristeza com ele. Podia estar enfrentando o maior problema, mas ele tentava levar a vida sempre com alegria, tocando a bola pra frente”, complementa Darci.

Darci relembra que, além de patrão, Eloyr foi compadre e vizinho, e claro, não esquecendo do churrasco dos domingos: “Trabalhei muitos domingos até o meio-dia, e ele assava a carne para mim. Eu levava a carne pronta para casa, era muito especial”.

 

Diagnosticado com câncer no intestino

Eloyr era um homem saudável, mas em julho deste ano, sentiu algumas dores e ao procurar um médico foi diagnosticado com câncer no intestino. Passou por uma cirurgia no início do mês de julho e tudo ocorreu certo, porém passou por complicações posteriores. Robson conta que devido a problemas de aderência no intestino delgado de seu pai, o intestino não conseguia trabalhar.

Após a primeira cirurgia, precisou fazer mais três, em um prazo de 22 dias. Sempre consciente e otimista, acreditava na recuperação, tanto que quando internou para fazer a primeira cirurgia chegou a dizer aos amigos da roda de baralho que ficaria apenas uma semana afastado e voltaria para casa e para os jogos de baralho.

 

Despedida

Às 8h do dia 24 de julho, aos 79 anos, Eloyr faleceu, deixando um vazio imenso no coração daqueles que o amavam. A partir dessa data, os domingos têm sido nebulosos e o churrasco perdeu o gosto do principal tempero, que somente o chefe da família Casotti sabia temperar.

Robson conta que nunca havia perdido alguém tão próximo e que seu pai lhe faz muita falta: “Só entendemos a verdadeira dor de perder alguém próximo, quando passamos por isso. Graças a Deus, eu tive o prazer de poder ter o meu pai presente até os meus 47 anos, e infelizmente agora ele nos deixou. É difícil, o dia a dia é difícil, porque além de meu pai, era meu colega de trabalho, a gente se encontrava todo dia de manhã. Ainda todo dia de manhã, quando entro no posto, lembro que ele não está mais aqui”.

Mesmo diante das dificuldades, o assunto de falecimento nunca foi tocado. Eloyr se mantinha otimista e confiante que iria voltar para casa e para a sua rotina. Robson conta que por conta disso, eles não tiveram uma despedida oficial.

A última imagem que Robson tem de seu pai, é da última visita que lhe fez na UTI, onde conversaram bastante: “Ele estava bem falante, lembro que ao sair da UTI levantei a mão para ele e ele levantou a mão para mim. Esse foi o último tchau que eu tive dele”, relembra emocionado.

 

O legado que permanece

A tradição do churrasco de domingo continua, agora como forma de manter viva a memória do patriarca e de cuidar da mãe, viúva: “O churrasco do seu Eloir era único, mas vamos manter a tradição. O convívio com a família é muito importante”, afirma Robson.

Mais que bens ou negócios, Eloyr deixou aos filhos e amigos o exemplo de um homem honesto, batalhador, de hábitos simples e de um coração generoso: “Esse é o seu Eloyr”, define o filho.

 

 

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