26/09/2020 às 09h22min - Atualizada em 26/09/2020 às 09h22min
A insignificância do meu eu sem o outro
Coluna de opinião do jornal impresso
Da redação
Quero olhar pro alto e contemplar o infinito Ver o horizonte, suas criaturas. Tenho olhado muito tempo pra baixo Olhando pro chão... Olhando para as mãos De olhos baixos De baixa estima De baixa alegria Tenho demorado para observar a luz Tenho resistindo em prestar atenção na alegria... Na vida, no amor Eu estava acostumada a andar de mãos dadas Caminhar em grupos Tropeçar em pedras conhecidas e até algumas novas mas sabia ou encontrava jeito de removê-las Estou sentindo medo de sentir medo de gente Medo do medo que estou provocando nas outras pessoas... Estou estranhamente com medo de chegar perto... Medo de partilhar. Eu estava acostumada a contaminar com sorrisos Com energia Abraços apertados Apertos de mãos Acostumada a oferecer o ombro pra consolar, amparar, sarar feridas Acalentar crianças de todas as idades quando a tristeza por qualquer motivo lhes pegava Eu estava acostumada a atravessar a rua para abraçar com meus braços ou com meu olhar, o meu próximo Chegava bem perto para sentir cheiro de gente! O melhor cheiro O cheiro único, particular, especial... de cada pessoa Os amigos paravam, acenavam, gritavam o teu nome do outro lado da rua ...apressavam o passo para te encontrar... Hoje o passo é apressado pra se afastar... O olhar não para fixo no olhos...medo de chamar a atenção De alguém puxar assunto Melhor abaixar a cabeça e sair rápido E se uma criança estender os braços para um abraço. O que eu vou fazer? E se o senhor do meu lado, já de idade tropeçar? E, se esse aí do lado, tão despreocupado estiver contaminado? Melhor sair. Ir pra casa Me recolher a minha insignificância. Nunca fez sentido pra mim, que um ser fosse insignificante, mas agora faz: a insignificância de não partilhar, de não ajudar, de estar só! Por Leonita de Souza
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