01/04/2021 às 14h41min - Atualizada em 01/04/2021 às 14h41min

Gripe espanhola: 100 anos da mãe das pandemias

O vírus influenza causou a epidemia mais mortal da história — foram mais de 50 milhões de vítimas. Será que algo parecido pode se repetir?

Veja Saúde
No dia 4 de março de 1918, um soldado da base militar de Fort Riley, nos Estados Unidos, ficou de cama, com sintomas de uma forte gripe. Esse acampamento no Kansas treinava cidadãos americanos para a Primeira Guerra Mundial. Naquela semana de março, mais de 200 soldados adoeceram também. Em apenas 14 dias, mais de mil militares foram parar em hospitais — e o mal se alastrou por outros acampamentos. No pico da epidemia, mais de 1 500 militares reportaram a enfermidade em um único dia. A doença se espalhou rapidamente pelos EUA e pegou carona com os soldados americanos que embarcaram para a Europa. E de lá ganhou o mundo.  
A chamada gripe espanhola — que nada tem de espanhola — matou de 50 a 100 milhões de pessoas em 1918 e 1919. Esse número representa mais mortes do que o montante provocado pelas duas grandes guerras juntas. Mais do que a aids causou em 40 anos. Foi e ainda é a maior pandemia de que se tem notícia. E o Brasil não passou ileso por ela. Por aqui foram cerca de 35 mil óbitos, entre eles o do presidente da época, Rodrigues Alves (1848-1919).
A história vai se repetir?
Um episódio tão assustador nos faz pensar na possibilidade de uma nova pandemia dessa dimensão. Antes de qualquer conjectura, convém botar as coisas no contexto. Em 1918 não havia antibióticos para tratar as infecções secundárias à gripe (como pneumonias), o que elevou a escala da letalidade.
O mundo estava em guerra. E guerra de trincheiras, onde soldados doentes se aglomeravam em locais inóspitos — ambiente mais que propício ao contágio. Além disso, os recrutas que escapavam das balas carregavam o vírus pelos campos de batalha e aos seus países de origem. Os hospitais de campanha, por sua vez, alojavam uma multidão de infectados, que disseminavam a doença. Por fim, nações devastadas pelos conflitos sofriam com a escassez de suprimentos, deixando a população debilitada. Tudo estava a favor do H1N1. 
E, de repente, em 1919, da mesma maneira abrupta com que o vírus chegou, ele sumiu… Provavelmente porque grande parte das pessoas que sobreviveram já havia criado anticorpos. Especula-se também que uma nova mutação tenha tornado o agente infeccioso mais ameno e incapaz de semear a discórdia nos pulmões. Não há um veredicto preciso. 
Cem anos depois, temos muito mais condições de localizar, diagnosticar e conter uma epidemia. Contamos com antibióticos para barrar as bactérias que se aproveitam da gripe para bombardear o sistema respiratório. Dispomos de uma rede de vigilância mundial que rastreia vírus e emite alertas para prevenir surtos. Fazemos campanhas para conscientizar a população. E, muito importante, podemos tomar vacinas, renovadas anualmente, para nos defender das novas cepas de influenza que emergem e se espalham por aí.
Por outro lado, vivemos em um mundo bem mais globalizado e conectado. Sabemos que o vírus, capaz de pular de uma espécie para outra, se origina em aves e pode passar por um estágio nos porcos — e ainda existem criações de animais em confinamento e situação precária, o que facilita a recombinação viral e o contágio.
Sem contar que há países que ainda sofrem com a falta de acesso a vacinas e remédios. Estamos protegidos de uma nova pandemia? Creio que dificilmente vamos encarar uma gripe tão agressiva e mortal como a de 1918. Mas o influenza não pode ser subestimado. Nós, humanos, temos uma tendência a esquecer os percalços da história. Que o centenário da gripe espanhola refresque nossa memória. 
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