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08/07/2021 às 11h33min - Atualizada em 08/07/2021 às 11h33min

Vinhos de altitude: 30 nos de pesquisa

A pesquisa da Epagri não para, e essa caminhada de mais de 30 anos não tem prazo para acabar

Assessoria
Aires Mariga/Epagri
Pesquisar é um exercício de perseverança, um caminhar que muitas vezes se dá em passos pequenos, porém firmes e constantes. Um bom exemplo é a pesquisa iniciada pela Epagri há mais de 30 anos para produção de vinhos finos em Santa Catarina. A concessão, no dia 29 de junho, da Indicação Geográfica (IG) Vinhos de Altitude de Santa Catarina, na modalidade Indicação de Procedência (IP), é um dos resultados desse trabalho que, apesar de estender por três décadas, segue em frente, agora numa nova fase.
Na década de 1990 a Estação Experimental da Epagri em Videira (EEV) apostou numa ideia que, naquele momento, parecia ousada. A proposta era produzir vinhos finos em Santa Catarina. A missão era árdua, pois o Estado não tinha tradição na produção de uvas viníferas. Até então, a produção catarinense se concentrava em vinho de mesa, desenvolvido a partir de uvas para consumo in natura.
Foi preciso começar do zero. O primeiro passo foi a condução de cultivos experimentais de uvas viníferas na EEV, segundo explica o pesquisador Vinicius Caliari. Os resultados positivos foram aparecendo e a pesquisa foi ganhando corpo, avançando também para a Estação Experimental da Epagri em São Joaquim (EESJ).
 
Indicação geográfica
Hoje, a cadeia produtiva de vinhos finos de altitude está consolidada em Santa Catarina, a ponto de receber uma IG. A certificação, concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), atesta que um produto só tem aquelas características porque é produzido de determinada forma, ou porque tem notoriedade na produção.
A conquista de uma IG requer também muita pesquisa e trabalho multidisciplinar, que contou com a participação de diversos membros da equipe de Epagri, que se uniram aos profissionais do Sebrae, da Embrapa e de outras entidades para enfrentar esse desafio.
Ao contrário da década de 1990, o processo de obtenção da IG dos Vinhos de Altitude não partiu do zero. Em junho de 2020, quando o pedido foi apresentado ao INPI pela Vinhos de Altitude – Produtores e Associados, muito já havia sido feito. Em 2008 a Epagri/Ciram realizou o primeiro levantamento de propriedades vinícolas em Santa Catarina, conta a pesquisadora Cristina Pandolfo. Esse cadastro foi atualizado em 2003 e novamente em 2018, a mais recente já como uma ação focada na obtenção da IG.
Além do cadastramento das propriedades, também coube à Epagri/Ciram fazer a caracterização ambiental da região produtora de vinhos finos do Estado. Foi a partir daí que as instituições e os produtores envolvidos no processo delimitaram a área apresentada na proposta de Indicação de Procedência. A região dos Vinhos de Altitude de Santa Catarina ocupa 19.676 km², o que corresponde a 20% do território catarinense. São 29 municípios abrangidos: Água Doce, Anitápolis, Arroio Trinta, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Brunópolis, Caçador, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Curitibanos, Fraiburgo, Frei Rogério, Iomerê, Lages, Macieira, Painel, Pinheiro Preto, Rancho Queimado, Rio das Antas, Salto Veloso, São Joaquim, São José do Cerrito, Tangará, Treze Tílias, Urubici, Urupema, Vargem Bonita e Videira.
 
Conhecimento acumulado
Ao longo dos anos, as Estações Experimentais da Epagri em Videira e São Joaquim seguiram com seus cultivos experimentais e vinificação das safras, produzindo conhecimento e tecnologias para que as viníferas da região pudessem fortalecer e diversificar suas produções. As unidades também tiveram papel decisivo nas análises físico-químicas e sensoriais dos vinhos de altitude. De acordo com Vinicius, só em 2019 foram testadas mais de 200 amostras de vinhos. Também entrou em cena a Epagri/Cepa, que apoiou a caracterização socioeconômica da região, uma das exigências do processo de obtenção de uma IG.
“Caso a Epagri não tivesse todo o conhecimento acumulado na área, a obtenção da IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina poderia levar mais tempo para ser conquistada”, avalia Cristina. Ela destaca também os estudos profundos e detalhados desenvolvidos pela Epagri, que resultaram na coleta de um grande volume de dados, que vai muito além do exigido no processo da IP. “Esses dados poderão ser usados para subsidiar novos estudos”, pondera a pesquisadora da Epagri.
 
O trabalho segue
O processo de concessão da IG Vinhos de Altitude de Santa Catarina estará encerrado de fato em 29 de agosto, quando esgota o prazo de 60 dias estabelecido pelo INPI para interposição de recursos. Mesmo após esta data, o trabalho da Epagri segue. A atualização do cadastro de vinícolas, por exemplo, precisa ser feita periodicamente. Também seguem os estudos com variedades de uvas viníferas e outras ações para o constante aprimoramento da qualidade dos vinhos de altitude.
A Epagri participa do Conselho Regulador da IG, responsável por determinar quais produtos têm as características exigidas para usar a certificação, uma ação contínua que vai exigir mobilização de diferentes profissionais. Com a IG, começa agora uma nova fase de trabalho para a Epagri. Os pesquisadores da Empresa estarão empenhados nos próximos anos em levantar e quantificar os impactos que a certificação terá na cadeia produtiva, a fim de documentar os resultados.


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