14/12/2021 às 08h15min - Atualizada em 14/12/2021 às 08h15min

Estamos mais pobres

Coluna de opinião do jornal impresso

Encolhido na 12ª posição no ranking das economias globais, o Brasil sofre as consequências da gestão caótica da pandemia e da inação diante de problemas crônicos.
Durante todo o século XX, o Brasil esteve entre os países de melhor desempenho econômico de todo o planeta, apesar da crônica situação de pobreza de boa parte de sua população. Entre os anos de 1930 e de 1980, nenhuma nação – nem o Japão, Estados Unidos, Noruega, Finlândia, Taiwan ou Coreia – ultrapassou as marcas brasileiras, que registravam uma expansão média do PIB acima de 6% ao ano. Vem dessa época a alcunha de País do Futuro.
Mesmo a chamada década perdida, a dos anos 1980, que jogou um balde de água gelada no otimismo, mais parecia um obstáculo na estrada para o desenvolvimento. E nunca isso soou tão verdadeiro quanto no início do século XXI, quando o economista britânico Jim O’Neill, do banco de investimentos Goldman Sachs, criou o termo BRIC. O acrônimo, cunhado em 2001, caracterizava Brasil, Rússia, Índia e China como as grandes potências emergentes, que sustentariam um crescimento capaz de colocá-las, até 2050, na liderança da economia planetária.
Dentro desse grupo, o Brasil gozava de destaque especial. Afinal, entre as quatro promissoras nações era a mais democrática e com as instituições mais solidas. Infelizmente, para os brasileiros, esse potencial não tem se cumprido. Reconhece isso o próprio O’Neill, que também foi secretário do Tesouro do Reino Unido e que hoje é presidente do conselho da tradicional instituição de estudos Chatham House, de Londres. “O Brasil e a Rússia foram as grandes decepções dessas duas últimas décadas”
Esse desencanto com o país é perceptível em sua recente queda no ranking das maiores economias do mundo. Em 2011, a notícia de que o Brasil havia superado, em dólares, o PIB do Reino Unido segundo as contas da consultoria britânica Centro de Pesquisa Econômica e de Negócios (CEBR) provocou um frenesi internacional. E a expectativa era superar também a França, o que consolidaria o país como o quinto da lista até 2022. Hoje isso é, claramente uma utopia. Já nos anos seguintes ao ranking, o Brasil começou a perder posições até mais fortemente que a Rússia, saindo do top 10. Ainda em 2021, pode perder a posição atual, ficando atrás da Austrália, a depender do desempenho durante o ano todo.
É obvio que parte importante dessa queda tem relação direta com a perda de valor do real em relação ao dólar. Os economistas lembram que um efeito da rápida e bem-vinda baixa dos juros básicos da economia entre 2015 e 2020, como forma de estimular a economia, pressiona para a desvalorização do real.com juros menores, os grandes investidores financeiros internacionais preferem apostar seus recursos em ativos de países desenvolvidos, mais sólidos e seguros. No entanto, esse fenômeno sozinho não explica tamanha volatilidade da moeda nacional, tornando comuns variações de 1,5 ponto porcentual por dia nos últimos doze meses. Em um ano, o real já se desvalorizou 28% diante do dólar. É o segundo pior desempenho entre as 24 moedas mais negociadas no mundo, atrás apenas do peso argentino.

Texto Revista Veja

Por: Odila Flach
 
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