23/11/2023 às 09h00min - Atualizada em 23/11/2023 às 09h00min

Movimento econômico de Palma Sola diminuiu R$ 50 milhões

A economia local é dependente do setor leiteiro e da agricultura, que passam por um momento crítico. Receosos, os produtores rurais deixam de investir e o comércio deixa de vender

Redação
A queda no faturamento da Cooper Palma Sola é de 50%, segundo o gerente da unidade, Edevaldo Ottoni que afirma que este é o cenário de quem tem na sua base os agricultores, especialmente quem trabalha com a produção de leite. Pequenos e médios comércios e prestadores de serviço de Palma Sola se queixam da queda nas vendas. Já Marciano Welter, mecânico da Mecapel, relata que o setor de conserto de máquinas agrícolas também enfrenta uma redução que ultrapassa os 50% e a venda de novas máquinas é praticamente nula.
Robson Message, proprietário da empresa Robson Veículos Multimarcas atua no mercado com loja própria há um ano e quatro meses. Conforme ele, nos últimos seis meses, em comparação com o mesmo período no ano de 2022, as vendas aumentaram, mas a venda do veículo que normalmente é comprado pelo agricultor diminuiu. “A caminhonete parou de vender”, afirma.
A economia local é dependente do setor leiteiro e da agricultura. Atualmente o preço do leite baixou muito, o que antes era comercializado por quase R$ 4, hoje é vendido a menos de R$ 2. Com os grãos a situação é parecida, a saca de soja, que em anos anteriores era comercializada a R$ 180, atualmente está sendo comercializada a R$ 130.
A situação é evidenciada por Edevaldo: “Hoje o leite mal cobre os custos de produção, não proporciona margem para o agricultor investir na propriedade. A ausência de investimentos impacta diretamente o comércio local, que deixa de vender máquinas, ordenhas, carros, motos e outros bens. Percebemos a diminuição de produtores na cidade, esvaziando o comércio. O município depende muito do leite”.
Em relação ao mercado de grãos, quem dá mais detalhes é o gerente da Bortoluzzi, Tiago Krott: “Nesta safra o produtor de trigo praticamente não teve resultado, ele comprou na alta e vendeu na baixa, tendo muitas vezes uma liquidez negativa, além disto a chuva foi um problemasso, muita gente não conseguiu colher a safra a tempo e tá amargando o prejuízo. Foi o que aconteceu em anos anteriores com a soja. Se antes a sobra do produtor era de 20/30 sacas de soja. Hoje já não tem mais essa sobra, porque houve uma queda nos preços, de pelo menos 30%”, informa.
 
O que diz o setor financeiro
O gerente da cooperativa Sicredi, José Fernando Pivatto, reitera que a economia local é baseada na agropecuária e, com uma queda no setor, consequentemente o dinheiro que circulava todos os meses deixa de girar nos pequenos comércios. “Isso gera uma reação em cadeia, uma falta de fluxo de caixa e como resultado, muitos dos nossos clientes [comerciantes e prestadores de serviço], estão antecipando recebíveis”, destaca.
O recebível corresponde ao volume financeiro que uma empresa tem a receber pela venda de seus produtos e serviços através de boletos ou cartões de créditos. José estima que a antecipação do recebível aumentou em 15%, mas a tendência é que este dinheiro faça falta depois, caso as vendas e o fluxo de caixa não aumentem. “A antecipação do recebível é uma excelente opção, contudo, neste momento ela se dá em razão da queda na circulação de dinheiro dentro do município e não pela necessidade de um investimento”, detalha o gerente.
Enquanto os comerciantes buscam aumentar seu fluxo de caixa através dos recebíveis, os produtores rurais movimentam menos as suas contas bancárias, com receio de fazer novos negócios e gerando a reação em cadeia relatada por José. “Vemos as movimentações dos nossos associados, um produtor que recebia R$ 30 mil está recebendo R$ 22 mil, e o que notamos é que eles estão receosos com o preço baixo [do leite e grãos], e seguram cada vez mais”, conclui o gerente.
 
Queda no movimento econômico
Em busca de dados que comprovem essa queda no movimento econômico relatada pelos comerciantes, o jornal Sentinela esteve na prefeitura municipal de Palma Sola, conversando com Paulo Suffredini, diretor de fiscalização e tributação de Palma Sola. Segundo ele, em 2021, indústrias, comércio e agricultura movimentaram mais de R$ 540 milhões no município de Palma Sola. “De 2021 para 2022 tivemos uma queda de R$ 40 milhões. Em 2023, até o mês de outubro, movimentamos aproximadamente R$ 50 milhões a menos que em 2022. Ainda temos novembro e dezembro pela frente, então até o final do ano esperamos que a queda fique em menos de R$ 50 milhões”, explica.
Esse dinheiro que circula pelo município gera o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é repassado pela União, que retorna para o município de acordo com o Índice de Participação, ou seja, quanto mais giro de dinheiro dentro e Palma Sola, mais recursos o município recebe para investir em saúde, educação e infraestrutura.
Além da crise da agricultura, especialmente na pecuária leiteira, Paulo cita outra situação que contribui para a queda do movimento econômico: a não emissão da Nota Fiscal de Produtor Eletrônica (NFP-e). “O produtor se nega a emitir a NFP-e quando vende um produto. Se ele vende porco para uma empresa, por exemplo, a empresa emite a nota de compra. O que o produtor faz é emitir a Guia de Trânsito Animal (GTA), mas ele não emite nota de venda, então esse movimento não fica registrado, mesmo sabendo que a nota eletrônica, a partir de 2024, é obrigatória em todo o estado. No valor do PP0, que corresponde às vendas de produtor para produtor, girou no ano passado cerca de R$ 25 milhões, este ano girou até agora R$ 16 milhões. Sabemos que o movimento econômico é um dos segmentos que mais traz recurso aos municípios em geral, e a situação atual nos preocupa”, informa Paulo.
 
Indústria e mercados
Outros setores de Palma Sola não apresentam queixas em relação ao faturamento ou as vendas. Segundo o presidente da ACEPA/CDL, Rafael Link: “As indústrias de maneira geral, seja Indicatto, Cooperativas, Palmasola S/A, Fibroplast, Link percebo que as vendas estão acontecendo. Não vejo este pessoal reclamar. Agora a gente percebe que o varejo, que o nosso pequeno comércio que depende da venda local, este está sentindo a falta do dinheiro na praça”.
O gerente do mercado Alfa de Palma Sola, Ricardo Martins, afirma que a unidade de Palma Sola não está sentindo esta crise, que a meta do ano foi batida há mais de mês. 

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