07/02/2024 às 16h43min - Atualizada em 07/02/2024 às 16h43min

Tarcísio e o desafio ideológico

Coluna de opinião do jornal impresso

Esta semana assisti em vários locais um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva onde ele cumprimenta, elogia, brinca e diz que se prepara para derrotar Tarcísio Freitas o cumprimentando e aperando a sua mão.
Faço críticas à Lula, ao PT e ao lulopetismo há anos, mas dou a mão a palmatória com a capacidade política do Lula. Foi o que faltou ao meu presidente Bolsonaro em incontáveis situações.
Aqui compartilho uma coluna de opinião de outro jornalista e cientista político:
 
 
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sabe que a sorte lhe sorriu. Em hipótese alguma ele estaria onde está hoje, se o curso da política brasileira não tivesse vivido momento disruptivo tão grave como o que vivemos a partir do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
 
Mas a sorte precisa vir acompanhada de capacidade de ler o ambiente para se manter vivo. “A sorte favorece a mente preparada”, prognosticou Louis Pasteur. Tarcísio tem todas as prerrogativas de um líder que pode galgar voos maiores, e este voo maior, considerando o peso do governo do Estado de São Paulo, é um só: a Presidência da República.
 
No entanto, Tarcísio é refém do processo que o tirou da função de um competente burocrata para ser hoje um dos nomes mais proeminentes da política brasileira: o bolsonarismo. O que foi um ativo político importante reveste-se, agora, de um grave obstáculo para que Tarcísio possa representar uma direita moderna, atenta à evolução do século 21 e capaz de ler o momento social com a sagacidade de quem precisa unir a sociedade brasileira em torno de um projeto de país. E ir além: alcançar o centro político.
 
O ideal conservador, do liberalismo autêntico que defende as liberdades individuais como princípio básico, como o direito à propriedade, carece de uma liderança capaz de rivalizar com a esquerda sem os rompantes contra as instituições e o sistema. O ideário de direita não pode ser reduzido às sandices de Olavo de Carvalho e à verborragia do ex-presidente Jair Bolsonaro. A máquina de fake news criada para manter esse projeto no poder fez uma leitura retrógrada dos princípios conservadores que precisam ser reconstruídos neste momento importante de normalização política.
 
O filósofo Stuart Mill, em sua obra Sobre a liberdade, de 1859, defende que a liberdade do indivíduo está acima de qualquer interesse coletivo. A sua tese trazia a preocupação de defender o indivíduo de qualquer tirania estatal. Todo pensamento liberal desde então é baseado na liberdade, nos preceitos da democracia representativa. Ao fim da guerra fria, com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a dissolução da União Soviética, em 1991, o mito comunista foi desfeito e Francis Fukuyama, em 1992, lançou a teoria do Fim da História, com o paradigma neoliberal sendo hegemônico a partir de então. Não é possível, portanto, manter a política de combate a um suposto comunismo que tem na alegoria do homem do saco para as crianças a mesma ameaça para os analfabetos políticos que militam nas redes sociais. Essa malta está a se reduzir consideravelmente, e a sobriedade tende a prevalecer na política brasileira.
As pesquisas qualitativas indicam que o eleitor está cansado dos outsiders e que, agora, busca nomes com experiência política, com capacidade para lidar com os conflitos inerentes ao exercício do poder. Querem alguém que, dentro da institucionalidade, resolva os problemas das pessoas. É a normalização da atividade política a que me referi anteriormente.
 
O conflito a que assistimos em todo o mundo decorrente de comportamentos considerados condenáveis ajuda a fidelizar uma parcela de público, mas limita o avanço de uma liderança com extrema capacidade administrativa. Flerta-se com a quebra da institucionalidade e com o Estado Democrático de Direito, combate-se a união homoafetiva, ignoram-se novos comportamentos em nome de uma moralidade parada no tempo e que não tem nada a contribuir com os tempos atuais.
Não se combate o hegemonismo do PT com radicalismo. Devolva o radicalismo a eles. Combate-se o PT com inteligência e com sagacidade, entendendo que alguns movimentos da sociedade são irreversíveis e fazem parte da agenda do século 21.
A política brasileira precisa evoluir, e Tarcísio de Freitas precisa entender que ele pode ser este instrumento que trará uma alternativa saudável à política brasileira. Tanto o campo da direita quanto o da esquerda precisam avançar, respeitar seus limites e construir pontes de diálogos que possam consolidar a nossa tradição democrática.
 
Marcelo Pimentel
Doutor em Ciência Política pela Universidade de Lisboa, membro do conselho científico do Ipespe, é professor de Jornalismo da Universidade de Taubaté.

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