Há 22 anos na rede municipal de ensino de Campo Erê, a professora Marilei Terezinha Ledur Bernardi encontrou na educação infantil mais do que uma profissão, mas um chamado que a acompanha desde a infância. Para ela, o papel da educadora vai muito além do simples cuidar: é uma missão de ensinar, acolher e transformar. “Eu amo o que eu faço, eu amo de verdade. Eu não saberia hoje fazer outra coisa”, confessa, emocionada, ao falar sobre sua trajetória. Essa paixão é o motor que a move a estar sempre estudando e buscando novas formas de encantar e desenvolver seus pequenos alunos.
O coração do seu trabalho está nas "vivências", atividades diárias que são muito mais do que brincadeiras. Para Marilei, eles aprendem brincando, e cada momento é uma oportunidade de desenvolvimento. Suas ideias vêm de livros, de grandes autores da educação infantil e de sua longa caminhada, sempre adaptadas para o universo das crianças. Seja em uma atividade de musicalização com um "pano mágico" que se transforma em pássaro e chapéu, ou em um exercício de coordenação com pinças feitas de grampos de roupa, o objetivo é sempre trabalhar o desenvolvimento completo: cognitivo, motor e social.
A filosofia de Marilei se baseia em um profundo respeito pela individualidade de cada um. “Eu tenho que entender, e o professor precisa entender isso, que cada criança tem o seu ritmo, tem o seu momento e tem a sua hora da aprendizagem”, afirma. Esse olhar atento faz com que ela repita uma vivência quantas vezes for necessário, garantindo que nenhuma criança fique para trás e que todas compreendam o objetivo proposto. Para ela, a aprendizagem só acontece quando se entende e se acolhe as diferenças, criando um ambiente seguro para todos.
Em uma turma onde as crianças passam até 11 horas por dia, a professora se torna uma figura central, quase uma segunda mãe. “Muitas vezes algumas crianças me chamam de mãe e já tive relato de pais onde eles chegam em casa e chamam a mãe de professora”, conta Marilei. Ela sabe que, além de todo o conteúdo pedagógico, o que as crianças mais precisam na idade delas é de afeto. “Precisa de um carinho, de dar o colo quando precisa, porque na idade deles o que eles mais precisam é esse olhar carinhoso do professor”, ressalta.
Essa relação de confiança se estende para fora da sala de aula, criando uma ponte sólida com as famílias. Através de um grupo de WhatsApp, Marilei compartilha cada vivência, explicando os campos de experiência trabalhados e as habilidades que estão sendo desenvolvidas. Essa comunicação diária não só tranquiliza os pais, que ficam longe de seus filhos por longos períodos, mas também os envolve no processo educativo. “É muito gratificante quando os pais valorizam o teu trabalho, quando você tem essa devolutiva”, diz ela, emocionada.
Com uma visão clara sobre os desafios atuais, Marilei comemora a decisão da Secretaria da Educação de retirar as telas da educação infantil. Para ela, a criança precisa fazer, criar e imaginar para se desenvolver, algo que o uso passivo de celulares e televisões não proporciona. Ela observa que o uso excessivo de telas em casa pode reduzir a atenção da criança na escola em até 70%, tornando o trabalho do professor ainda mais desafiador. Por isso, seu pedido aos pais é constante: "aproveitem ao máximo de tempo que vocês têm com os filhos de vocês, porque eles irão crescer".
Ao olhar para trás, depois de mais de duas décadas de dedicação, Marilei não tem dúvidas de sua escolha. O cansaço da rotina é apagado pelo carinho que recebe todos os dias. “Esse amor que eu recebo das crianças, isso não tem preço dentro da minha profissão”, finaliza. É a certeza de estar no lugar certo, cumprindo o sonho de infância e fazendo a diferença na vida de cada pequeno que passa por sua sala, deixando uma marca de afeto e aprendizado que eles levarão para sempre.