Sentinela do Oeste Publicidade 1200x90
10/09/2020 às 14h03min - Atualizada em 10/09/2020 às 14h03min

No mês do ciclista, atletas relatam suas dificuldades

Com 1,99m aos 17 anos, Dudu Crestani relata a sua preparação diária e como iniciou no esporte, que é um dos mais disputados em Santa Catarina

Atualmente o ciclismo é um dos esportes que mais cresce no Brasil, atraindo a cada dia mais entusiastas. Isso inclui diversas modalidades e estilos, sejam profissionais ou amadores. As mais conhecidas são ciclismo de estrada, mountain bike, que se divide em quatro estilos e bicicross (corridas e manobras). Mesmo sendo um esporte de alta performance, o ciclismo cresce mundialmente devido sua versatilidade, já que essa atividade é indicada para todas as pessoas que tenham condições físicas e motoras para pedalar.
O dia do ciclista foi comemorado na última quinzena de agosto e em Santa Catarina, o número de adeptos das duas rodas cresce constantemente, seja como prática esportiva ou como meio de transporte. A equipe do jornal Sentinela conversou com o palmassolense, Eduardo Crestani, popular Dudu, de 17 anos, para saber os benefícios e dificuldades da prática do pedal. Acompanhe a entrevista:
 
Dudu, como começou no ciclismo?
Sempre andei de bicicleta, mas só como meio de transporte. Foi em torno dos 15 anos que comecei a treinar para competir. Ainda novo, comecei a jogar futsal e por ser um esporte coletivo, não me saia muito bem. Sempre fui melhor nas atividades individuais. Por mais que o ciclismo também tenha esse lado coletivo, o destaque vai ao individual, que é mais competido. Comecei com a ajuda de um tio, que me auxiliava bastante. Conforme eu ia praticando, ia emagrecendo, pois essa atividade é uma competição contra você mesmo. Foi isso que me incentivou a não parar. No começo, você sente muita dor, mas com o tempo e com a ajuda do bike fit – ajuste voltado para adequar a bicicleta totalmente ao tipo físico do ciclista –, você vai se fortalecendo e prevenindo lesões.
 
No início, pesava quanto?
Tinha 120 kg e agora estou com 95 kg. Como tenho 1,99m de altura, o meu peso está ideal.
 
Como foram as primeiras competições?
Junto da brincadeira, começaram as competições. Eu achava que era bom, mas estava apenas começando. Nas primeiras provas, eu chegava em penúltimo e último lugar. Sempre tive vontade de ganhar e tinha como foco melhorar a colocação, e isso foi se complementando conforme o esforço que fazia, pois passei a me dedicar muito mais. Nunca fui apenas para pedalar, com essa garra de sempre estar entre os primeiros, comecei a me destacar. Como as competições são longes e em muitas preciso ficar alojando, precisei ter uma grande preparação. Dificilmente temos eventos aqui perto de Palma Sola.
 
E sobre a sua rotina diária!? É difícil conciliar estudo com treinamento?
Minha rotina é bastante movimentada, acordo às 6h30 e das 7h15 às 12h10 faço aula online e depois vou das 13h30 até umas 18h estudando. Sou aluno do colégio Alfa de Francisco Beltrão. Como estudo durante o dia todo, só consigo treinar a noite. Aqui em Palma Sola, a estrutura de asfalto não é muito legal, não consigo pedalar muito bem, e também não consigo no interior, porque não enxergo muito bem, ainda mais à noite. Faço em média uma hora de pedal, que dá em torno de 30 quilômetros. Mas depende muito do treinamento, há dias em que faço ele específico, onde treino acelerações de um a um minuto.
No entanto, estou deixando esse tipo de treino para o final de semana, onde consigo fazer em média 4 horas, que dá sempre mais de 60 quilômetros. O ciclismo requer muita dedicação, tem que querer mesmo. No começo, acredito que os treinamentos sejam mais fáceis, porque você está naquele pique de evolução. Quando iniciei e comecei a perder peso, estava animado. Conforme ia evoluindo e entrando num peso ideal para a minha altura, comecei a perder um pouco da motivação. É preciso treinar muito e pedalar no mínimo umas cinco vezes na semana, por bastante tempo. Antes da pandemia morava em Beltrão, por lá sempre tem parceiro para pedalar. Mas aqui em Palma Sola estou sempre treinando sozinho.
Além disso, faço funcional com a Vanusa Pauletti, que está me ajudando bastante na questão de equilíbrio e fortalecimento de lombar. Faço o uso de suplementação que é necessário, principalmente para longas pedaladas. Tomo algo antes de começar, para me ajudar na energia, e depois, para recuperar os nutrientes que perdi.
 
Como é a sua alimentação?
Hoje ela está um pouco mais livre, mas cuido na parte de doces e lanches. No começo, como eu tinha que perder peso, tinha que seguir um cardápio bem regrado. Como estamos numa época em que não está havendo competições, não preciso seguir uma grande preparação. A organização das provas sempre passa o percurso um mês antes, nisso eu consigo me preparar e visualizar como ele será, se haverá muitas subidas, já posso cuidar para chegar com um peso adequado e ter mais vantagem.
 
Disputou quantas competições? Já ganhou algum título?
Já competi mais o menos 40 vezes, mas ainda não fui campeão de nenhuma. Já subi no pódio numas seis, tirando entre 2º a 5º lugar. No ano, faço em torno 15 a 20 provas. No começo deste, participei de uma em Pato Branco. Um dos meus maiores objetivos é conquistar a vitória, além de fazer pedais mais longos, com até 600 quilômetros. Seria, mais o menos, uma viagem.
 
Possui algum tipo de patrocínio?
Minha maior dificuldade é a falta de patrocínio. Tenho o apoio do meu tio, que tem uma loja de bicicleta em Francisco Beltrão, e que me ajuda na parte de manutenção da bike, que é uma parte bem cara. Tenho ainda uma tia de Caçador, que me ajuda na parte de suplementação e alimentação. O mais difícil é se manter com recursos, pois é um esporte muito caro e muito difícil, ainda mais quando você está meio que sozinho.
Às vezes não posso participar de algumas competições porque não tenho a condição necessária. As inscrições variam de R$ 80 a R$ 100 e se for num lugar longe, tem gasto com deslocação, alimentação e hospedagem. Por mais que eu ganhe algumas partes da manutenção da bike, preciso bancar muita coisa. Antes da competição, é feita uma revisão completa, onde são trocadas peças e feitas algumas coisas que precisa. O gasto pode variar, mas quase sempre é de R$ 50. E depois, precisa ser feita mais uma, onde acabo gastando mais. Em cada competição, gasto em torno de R$ 500.
 
Como funcionam as competições? Elas reúnem quantos ciclistas?
Geralmente, tem em torno de 600 inscritos. Quando passa para a divisão de categoria, ele separa bastante. A minha é a júnior, que vai de 16 a 18 anos, e é uma das mais disputadas, reunindo cerca de 70 atletas. No pódio quase sempre vai cinco, e só de você estar entre os primeiros, já é bem satisfatório. Claro que sempre queremos a vitória.
 
Quanto tempo dura uma prova?
Varia muito das competições, pois tem as divisões das categorias e de percurso. Na maioria das provas da região o percurso menor é de 25 quilômetros, e o maior de 40 a 60 quilômetros. E tem as que chamamos de ultra maratona que variam de 50 a 120 quilômetros. Normalmente, o tempo varia de uma a três horas, mas depende muito de como é o percurso, pois quanto mais agradável ele for, mais rápido você vai, e quanto pior, com muitas subidas, mais demora.
 
Qual foi a sua maior distância?
Cerca de 110 quilômetros, que deu aproximadamente 4h30 de percurso.
 
Há mudanças nos seus treinos em época de competições?
Em setembro, eu iria participar de uma competição em Cascavel, mas como terei provas da escola não poderei ir. Seria uma prova de 100 quilômetros. Estava me preparando com pedais de 20 a 30 quilômetros durante a semana e no final de semana de até 120 quilômetros. Em outras competições, é mais o menos isso, tento treinar conforme vai ser o percurso.
 
Qual a diferença da sua bicicleta para uma normal?
A parte de peças. As bikes de ciclismo, geralmente, são feitas de carbono e são mais leves, tendo mais durabilidade e conforto, mas precisam ser rígidas. As comuns quase sempre são Aro 26 e as nossas são 29. Tenho uma para usar no interior, que quase sempre é a que uso nas competições, e outra para o asfalto, que uso para os treinos. Comecei com uma bike comum e logo evolui a uma um pouco melhor, mas que ainda era simples. Com o tempo, foi necessário comprar uma melhor, que é a que tenho até hoje.
 
Quanto custa uma bike dessas?
Varia bastante. Tem umas que podem custar até R$ 80 mil, as vezes mais. Investi R$ 8 mil na minha de competição e R$ 5 mil na de treino. Essa é a média.
 
Quais são suas ideias para o futuro?
No momento, estou me preparando para o vestibular. Pretendo seguir a área de Veterinária. Mas não consigo deixar do pedal, é um hobby mesmo e amo praticar. Além de ter me ajudado muito, sei que ainda vou melhorar bastante e alcançar meus objetivos. Sou muito grato por tudo que conquistei e por todos que me apoiam todos os dias, especialmente a minha mãe.
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Sentinela do Oeste Publicidade 1200x90