30/10/2020 às 09h07min - Atualizada em 30/10/2020 às 09h07min

A geladeira

Coluna de opinião do jornal impresso

Larissa Dias
Da redação
O Magnata Jeff Bezos, fundador da Amazon, é o homem mais bem-sucedido do mundo. Primeiro ser humano a cruzar a linha dos duzentos bilhões de dólares de patrimônio pessoal, Bezos mantem um hábito comum a várias pessoas de sucesso que conheço: marcar textos e frases inspiradores e deixá-los em local de acesso fácil. Curiosamente, o texto de que ele mais gosta está estampado há muitos anos na porta de sua geladeira.
                Numa tradução livre, a mensagem diz: “Ser bem-sucedido é rir muito e com frequência; conquistar o respeito de pessoas inteligentes e o afeto das crianças; ganhar o apreço de críticos honestos e suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza; encontrar o melhor nos outros; deixar o mundo um pouco melhor, seja por uma criança saudável, um canteiro de jardim ou redimindo uma condição social; saber que pelo menos uma vida respirou melhor porque você viveu”. Interessante perceber que em nenhum momento há uma associação entre sucesso e prosperidade.
                Mas o que mais me encantou no gesto de Bezos foi ele escolher a porta da geladeira para emoldurar e preservar a mensagem que lhe é significativa. Eu também sempre gostei de textos e frases inspiradores; assim como de geladeiras. E fazer dela “o meio de mensagem’ que nutre a nossa vida não deixa de ser uma ideia genial, capaz de dar novo significado ao mobiliário refrigerado presente em quase todas as casas do planeta. Equipamento prestes a celebrar 164 anos de existência.
                Toda geladeira tem luz própria (literalmente), já que seu conteúdo diz muito a respeito de uma pessoa. Imaginar o que seus donos estampam na porta delas, com o que a abastecem o que comem e como organizam os alimentos é algo que carrega um forte e inegável tempero de voyeurismo. Se eu ver uma geladeira quase vazia, com apenas água gelada e uma caixa de pizza semidevorada, posso apostar que o dono é um homem solteiro. Assim como se eu abrir a geladeira de uma família japonesa que mora em Ichigaya, área residencial de Tóquio, encontrarei varias pastas, temperos e iscas que integram um repertório culinário absolutamente distinto daquele que estamos familiarizados. Geladeira e cultura andam de braços dados.
                 Texto de Lucilia Diniz

                Na porta da minha geladeira conservo uma flor de Edelweiss que ganhei de um amigo especial. Essa pequena flor cresce na região dos Alpes europeus, na rocha em altitude acima de 1700 m. Ela se conserva por dezenas de anos. Entre os austríacos, presentear alguém com Edelweiss é como uma declaração de afeto, carinho e amor.
                O Edelweiss, original dos Alpes europeus, nasce em rochas, em geral a uma altitude de 1700 a 3400 metros acima do nível do mar. O Edelweiss ficou conhecido no mundo por causa da música, e é considerada a verdadeira flor do amor, pois alguém arriscou a sua própria vida, escalando montanhas para colhe-la. Ela não murcha e não morre permanecendo igual por mais de cem anos. É por isso que só presenteamos com essa flor quem é muito especial. Fui contemplada com uma.

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