Um Brasil que não controla o vírus, mas é controlado por ele, é o que vem à mente da secretária de Educação de Palma Sola, Rosalina Vargas, quando fala em retorno presencial dos alunos às escolas. E, caso isso se concretize, alunos e trabalhadores da educação básica, que representam 25% de toda a população, serão colocados em risco à medida em que vão interagir e se deslocar aumentando a chance de contaminação.
Por isso, a Associação dos Municípios do Extremo Oeste de Santa Catarina (AMEOSC) oficializou pela não retomada das aulas presenciais nas redes municipais de ensino da região. À redação, Rosa fala sobre os impactos da pandemia na educação e analisa as dificuldades enfrentadas pelos professores que saíram da sala de aula presencial e, sem preparação, tiveram que se adaptar ao ensino remoto. Acompanhe a entrevista:
O que dizer sobre a volta às aulas?
Como o nosso município compreende a educação infantil e anos iniciais, já está definido que as aulas presenciais não retornarão neste ano. Na rede estadual, foi realizado um levantamento sobre os alunos que poderiam retornar para o reforço, mas quando chegou a opção dos pais assinarem um termo de responsabilização, parou por ai. Porque não podemos afirmar que o aluno não contrairá o vírus, mesmo seguindo todos os cuidados. Em alguns municípios, as aulas já retornaram com o ensino médio, mas no nosso, seguindo as orientações da nossa promotoria e da Ameosc, não retornaremos.
Por que as escolas não conseguem dar segurança para o retorno dos alunos?
O tamanho das salas padrão, de 1º a 5º ano, é de 48m². Para retornar as aulas, os alunos precisam estar afastados no mínimo 1,5m, isso atrás, na frente e dos lados de cada um. Se isso ocorrer, não teremos nem cinco alunos em cada sala e pelo menos 1/3 deles seriam atendidos por dia. A ideia era dividir a sala em duas ou três e ter um dia aula presencial e noutro online. Para isso, teríamos que contratar no mínimo 40% de professores a mais e não temos condições financeiras para isso e, ainda, teríamos que dividi-los, uns para as aulas remotas e outros para as presenciais.
Como o ensino e a aprendizagem foram impactados pela pandemia?
Ela foi prejudicada negativamente e positivamente. O que não surpreende é que alguns pais que já não apoiavam seus filhos antes da pandemia, continuam da mesma forma. Continuamos com a mesma porcentagem de alunos com bom e mal desenvolvimento. Um dos pontos que para mim está entre os mais importantes, é a presença da família nas atividades. Antes eles apenas cobravam, agora param para ajudar e se fizeram segundos professores.
Houve demissões?
Houve a suspensão do contrato dos estagiários e de alguns ACTs. Por conta das eleições, muitos saíram e com isso, os que haviam sido suspensos foram readmitidos, menos os que já tinham seus contratos vencidos.
As aulas remotas conseguem suprir o conteúdo presencial?
Infelizmente, não. Além de ser totalmente diferente, temos que reconhecer que não existe um espaço mais adequado do que uma sala de aula para interação e troca de conhecimento. Perdemos muito a qualidade de ensino, porque boa parte dos alunos deixaram de estudar ou de se dedicar. Acredito que o nosso município, por termos o sistema Aprende Brasil, estamos conseguindo colocar essa sequência de aprendizagem e o plano de ensino em dia. Agora com a pandemia, todos estão se reinventando, mas ter o mesmo contato que o presencial tinha, é impossível, porque agora os professores precisam esperar o tempo dos alunos olharem o conteúdo e fazerem, o que pode ser de imediato ou não.
A pandemia fez com que os profissionais de saúde fossem mais valorizados. Houve o mesmo com profissionais da educação?
Acredito que sim, pois a escola nunca havia feito tanta falta na vida dos alunos – isso é o que ouvimos de pais e responsáveis. E ainda, eles puderam presenciar o que os professores passam no dia a dia, seja chamando a atenção dos estudantes ou ensinando, e conseguiram se colocar no lugar e valorizá-lo ainda mais. Esse flashback será inesquecível para todos. Tenho certeza que quando as aulas retornarem, os pais continuaram ajudando seus filhos.
Qual o problema do ensino médio?
Neste momento, o adolescente está pensando em ganhar a vida e seu sustento em primeiro lugar, deixando o ensino em segundo. Vejo que perdemos e estamos perdendo bons alunos, que tomaram a decisão de seguir a vida sem a escola, mas há também, aqueles que já traçaram seus caminhos pensando numa universidade. O mundo não acabou, todos precisam seguir seus objetivos e não deixá-los de lado só porque estamos sendo afetados por uma pandemia. É necessário que os jovens estudem, pois só assim conseguirão um bom futuro e para isso acontecer, precisam se esforçar. O ensino é a base para o trabalho depois.
Que lições a pandemia irá nos deixar?
Com toda a certeza, englobará a solidariedade e o cuidado. Todos viram que precisamos priorizar a saúde e outros seguimentos necessários. A lição que tiramos disso, é que ninguém sabe de nada e que de um dia para o outro tudo pode ser mudado, melhorado ou prejudicado.