09/08/2022 às 14h03min - Atualizada em 09/08/2022 às 14h03min

Vamos largando ou deixando de lado, sem nos dar conta

Coluna de opinião do jornal impresso

Todos os dias nos despedimos de algo. Nos despedimos de hábitos e comodismos, nos despedimos de quem somos, nos despedimos de quem nem teve chance de chegar. Nos despedimos do que não vivemos e essas despedidas são, talvez, as mais dolorosas: nos despedimos do passeio de bicicleta na manhã de sol que não aconteceu, dos passeios nos parques, das viagens planejadas que ficaram no papel.
Nos despedimos de sentimentos que, muitas vezes simplesmente por ignorância deixamos escapar: nos despedimos de mais paciência, das compreensões absolutas, das lutas pelo que acreditamos, dos amores verdadeiros, nos despedimos do que nos leva adiante e também do que nos arrasta pra trás. Nos despedimos do que esta e do que não está mais. Nos despedimos do cheiro das flores quando não regamos o jardim.
Nossas despedidas são sutis, inconscientes, quase nunca notadas. Nos despedimos de alguém que entrou na nossa estrada, mas não acertou o passo, quando admitimos outros rumos, nos despedimos de alguns cansaços pra tentar resgatar sorrisos, nos despedimos das emoções quando colocamos as razões na frente das escolhas.
E também nos despedimos das razões quando nos permitimos mais uma chance: pra melhorar, pra abrir mais espaço, pra se sentir disposto e disponível a dar as mãos ao que se acredita com o coração aberto. E caminhando lado a lado com tantas despedidas, me despeço. Me despeço de todos os nãos que acabaram abafando meus passos para por fim, poder desatar esses nós e só reforçar o que for laços.
 
Texto de Lilian Vereza
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