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20/05/2023 às 08h48min - Atualizada em 20/05/2023 às 08h48min

Uma nova advocacia na área familiar

Coluna de opinião do jornal impresso

Juliane Silvestri Beltrame
Existem muitos meios alternativos de se mediar um conflito. Após a resolução 125/2010 do CNJ, corroborado com as novas práticas inseridas no Código de processo Civil de 2015, muitos operadores do direito estão redescobrindo as formas de pacificar conflitos e apaziguar famílias.
Muitos advogados ainda querem fazer justiça com as próprias mãos, assumem o papel de guerreiros dentro do processo, isso ainda são respingos das faculdades de direito, das crenças limitantes, da busca pela concorrência desleal, que ensinavam o advogado ser combatente, numa busca incessante pelo GANHA X PERDE.
Atualmente no judiciário temos uma carga elevada de processos aguardando decisões, mandados empilhados, pareceres, e com toda certeza o mundo dos fatos se organiza de uma forma enquanto que nos autos vivencia-se um mundo à parte, deixando os cidadãos vulneráveis e sem qualquer perspectiva de resolução imediata.
São mães que aguardam, em média, dois anos para receber uma pensão de alimentos, como se as responsabilidades pelos cuidados do filho não fossem do pai também. Herdeiros que litigam por anos, até poder desfrutar de uma quota parte de um patrimônio que ao final poderá estar deteriorado. Ou talvez, hipossuficientes que postulam medicamentos quando a doença já se transformou, ou até mesmo, o paciente faleceu e ainda, estamos assistindo o conflito de competência nos autos entre os entes da federação, discutindo de quem é a responsabilidade.
Conflitos que ganham força, partes que não tem mais qualquer tipo de comunicação, sentem-se estranhos, profissionais saturados que exploram seus clientes para ganhar honorários a qualquer custo, juízes apinhados de conflitos que buscam bater metas, conquistas méritos, alcançar novos voos, e assim, as partes viram números.
Nesse momento, vejo a mediação sistêmica como uma maravilhosa oportunidade para ouvir o cliente, de sentir o rico momento de ver um filho que não fala com o pai há anos, trocando olhares molhados; um conflito entre vizinhos sendo resolvido com a comunicação não-violenta, um aperto de mão, possibilidades de falas que até então não foram observadas, sendo uma grande oportunidade de se conectar com seres humanos.
Por meio das práticas sistêmicas o conflito é observado através de uma perspectiva mais humana, sentindo o que existe de forma oculta entre as partes. Muitas vezes o conflito em si é tão pequeno diante das profundezes de dores emaranhadas entre os litigantes. Será que aquele pedido de separação traz consigo somente o que foi vivido entre quatro paredes? Uma mãe que proíbe um pai de ver o filho é somente uma forma de cobrança? O acordo trabalhista que não foi cumprido é somente falta de dinheiro na empresa? O que levou a mulher sofrer violência doméstica? Essas são perguntas que todos os profissionais devem fazer para que possamos enxergar o que existe dentro de cada ser humano que naquele momento busca as portas do Poder Judiciário como única alternativa para resolver o seu problema e poder dormir tranquilo novamente.
Depois que me tornei advogada sistêmica nunca mais peguei o problema do cliente. Sei que o problema é dele, mas ajudo apresentando novas alternativas, um olhar amplo para o conflito, resolvendo muito mais do que uma questão jurídica, mas uma questão que envolve almas.
Reviver memórias, sentir o coração bater mais forte, o suor percorrer no corpo, são características biológicas que a parte sente antes de entrar em uma sala de audiência. O papel do mediador e do advogado é tornar esse momento mais tranquilo e acolhedor. A fala de uma mãe que está em processo de separação tem muita mágoa, dor, vergonha, frustrações de uma ilusão de contos de fadas não vivida e que merece ser dissolvida para que possamos resolver o conflito por inteiro, evitando o seu retorno para execução do acordo proposto.
 Porque estão separando? Qual a dor que cada um carrega? Lealdades familiares, projeções, carências, dúvidas, ciúmes, etc. O que fez aquele casal sonhar com uma vida juntos e logo depois de alguns meses, com um rebento no colo exaltar um olhar de ódio que arrepia, como se as estruturas e os pilares nunca haviam sido construídos.
Portanto, o direito sistêmico nasce do direito natural, se torna muito útil para aclarar o que falta, como uma lanterna projetada em um bosque escuro. Incluir o que está excluído, separar o que está misturado, colocar em ordem, restabelecer o equilíbrio entre o dar e tomar, aliviar as tensões, os medos, buscando decisões inteligentes, conscientes, transformadoras.
Falar ao casal para repetir a frase: sinto muito, por favor me olhe com carinho, você é eu, eu sou você, foi muito bom, eu reconheço os meus 50% da relação, restabelece o equilíbrio e a paz. As uniões de habilidades do profissional que se abre para esse olhar, como o direito sistêmico, a PNL, a comunicação não-violenta, a mediação, a inteligência emocional, torna um profissional especial e singular.
Eu estou a serviço da pacificação social e quanto mais poder contribuir para a reconexão do casal mais iluminada será minha trajetória. Estar conectada com a verdadeira advocacia, aquela que eu sempre vislumbrei para meus clientes, me torna uma verdadeira profissional. Tenho fé na liberdade, sem a qual não há direito, nem justiça, nem paz.
 
Por: Juliane Silvestri Beltrame especialista sistêmica em direito das famílias
 

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