07/09/2024 às 10h00min - Atualizada em 07/09/2024 às 10h00min

SEPARAR OU NÃO SEPARAR?

Coluna de opinião do jornal impresso

Juliane Silvestri Beltrame
Eis uma questão difícil de se resolver. Quem nunca pensou em se divorciar, que atire a primeira pedra. Tenho certeza que essa dúvida já passou pela cabeça de grande parte dos casais, pelo menos uma vez, embora não se confesse ou admita isso.
A decisão por um divórcio, por mais difícil que possa parecer, raríssimas vezes é feita de uma hora para outra. Pelo menos por uma das partes, essa ideia é laborada internamente durante muito tempo, às vezes anos, até que esteja pronta para ser externada ou verbalizada.
Separar é um ato adoidado que muitas vezes estamos separados e não sabemos. Muitos casais vivem dentro de um lar e mal se falam, coabitando como se fosse uma república, só para divisão das despesas. É tão sofrido que muitos acabam fazendo da separação uma atitude impensada e o fazem para se ver livre da dor e da angústia que provoca, perdendo tempo em gastar energias nas possíveis alternativas de uma reconstrução da família, ao invés da separação.
A reconexão familiar é pouco conhecida, pois no momento da dor as pessoas só enxergam o caminho do término, pelo sofrimento sentido, colocando no outro a culpa pelo afastamento. Olhar para si, se autoconhecer, buscar ajuda profissional, recuperar a confiança, o amor é um caminho pouco seguido porque demanda a busca de si, o desapego e o desnudar-se do orgulho e do ego, os grandes enigmas do ser humano.
Nós, familiaristas, não temos o direito, muito menos o poder de mudar a decisão das pessoas. Não podemos ser agentes separadores e nem induzir sobre qual a decisão será mais adequada para eles. É uma decisão íntima e um ato de responsabilidade dos sujeitos envolvidos. Mas, podemos muitas vezes dar um norte, trazer um conhecimento que pode transformar a vida de um casal e pode contribuir de forma humana na continuação da família.
São 20 anos trabalhando com famílias nos momentos mais difíceis, e o caminho mais acertado é o olhar humano para cada processo, cada sorriso devolvido e cada casal que reaproxima ou dissolve de forma amorosa, perpetrando a continuação e o desenvolvimento dos filhos, contribuindo para a pacificação social, sendo um agente da paz.
Muitos casais não têm a capacidade de resolver, por si mesmos, esses conflitos internos e o externalizam, relatando o medo e a confusão ao advogado. Outros utilizam o processo judicial como forma de vingança, manipulação e escape. Levam para o litigio judicial os restos do amor, transformados em histórias de degradação do outro, o que certamente não é a solução para uma separação. Ao contrário, esses processos em geral, muitas vezes, são exatamente para não resolver e para não separar, já que continuam a relação através da Justiça.
Você já ouviu a frase: O ódio une mais do que o amor.
O divórcio não é fácil e nem simples. São muitos os desafios para se manter um casamento duradouro. Existem muitas dores, traumas de infância que os cônjuges derramam em cima um do outro na esperança de resolver a dor do passado, razões inconscientes que muitas vezes encobrem os seus verdadeiros motivos. Muitas vezes são recalques, guardados por anos e anos, falta de pai e mãe, quebra de fluxos de amor, traições de namorados anteriores, abandono afetivo, criança carente de amor, criança que viu os pais separando, sofrendo, praticando violência doméstica, vítimas de abusos físicos e psicológicos, e que em algum momento vem à tona.
Lidar com o outro é uma verdadeira escola. O casamento é o lugar certo para cada cônjuge recuperar e evoluir. Quando o ser humano compreender que é na família que evoluímos, curamos, melhoramos, aprendemos, deixamos a continuidade da vida, entenderemos que o que chega é o certo e o que vai é a oportunidade de melhorar.
Só quando deixarmos o nosso orgulho e egoísmo de lado, vamos aprender nos curar e parar de ver o outro como uma caixa de benefícios com passe livre de prazer, de felicidade, de resolução dos problemas, ou talvez, a famigerada “tampa da panela” e a bengala das nossas dores e desventuras, vamos poder acessar o amor que completa, que serve e que evolui.
 
Por: Juliane Silvestri Beltrame Advogada familiarista e escritora.
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