O número de divórcios no Brasil bateu recorde e chega a 420 mil casos, segundo dados do IBGE em 2022. Bom, esses dados você já deve ter percebido no cotidiano, porque volta e meia você escuta ou presencia um parente, amigo, vizinho dissolvendo a união. Praticamente está virando normalidade.
Legalmente, o divórcio é a forma de pôr fim à relação jurídica que se chama casamento. No sistema jurídico brasileiro, existe a união estável, uma figura muito parecida do ponto de vista dos direitos e das obrigações com o casamento, mas que não tem sua mesma natureza jurídica. Estudiosos dizem que a facilidade do trâmite da separação extrajudicial está contribuindo para esses dados aumentarem gradativamente. Será?
Te convido olhar para outro ângulo esses números. O que estamos fazendo de forma antecipara para evitar chegar nesses números impressionantes relatados pelo IBGE? Estamos olhando para nossos comportamentos sabotadores de forma antecipada? Estamos observando a origem de nossas dores, raivas e exigências dentro do lar? Você já abriu sua mala ou está só apontando o dedo para o cônjuge?
Entender o que cada um carrega no coração, compreender que o outro teve uma infância difícil, passou por rejeição, abusos, carências, faz nascer um olhar amplo dentro da relação de casal. Observar o que o outro sente é a chave para evitar a dissolução antecipada. Sim, entendo que você pode estar pensando, que essa conversa é muito profunda e entediante, que a vida é um corre-corre e que é melhor desistir e viver sozinha para evitar sofrimento e problemas. A carência e a vulnerabilidade nos colocam numa posição muito delicada nos relacionamentos, onde tendemos a depositar nos outros a responsabilidades sobre a nossa felicidade, algo que deveria ser somente uma responsabilidade nossa.
Não estou aqui dizendo que não vai ter casamento chegando ao fim. Estou dizendo que muitos términos poderiam ser evitados.
Todo o enlace conjugal é sagrado. Quando o casal esquece do propósito de estar junto, perde o controle da jornada. Primeiro passo pergunte-se: Do que esse casamento está me curando? De excessos, superficialidades, egoísmo, passividade, da impotência, do vitimismo, da carência. O que esse casamento está me devolvendo? O real sentido da vida, o essencial da minha alma, a compaixão, a paciência, capacidade de servir e curar, a sensibilidade e outras tantas situações que está te tornando um ser humano melhor. Depois desses questionamentos profundos, tenho certeza que você começa ter clareza do porquê está casada, e isso, poderá evitar um divórcio.
A felicidade no relacionamento de casal não é algo automático. Casou e recebeu felicidade de bandeja. O casamento precisa de ordem para fluir. Precisa de investimento diário, compreensão, paciência, renovação, ou seja, é uma decisão em querer fazer dar certo e isso dá trabalho.
Pois então, existem meios para você melhorar o casamento, com exercícios, terapias, autoconhecimento, desenvolvimento de um olhar profundo na relação para reconectar e muitos outros. Tenho certeza que nenhum sistema familiar erra ao escolher o outro, somos crianças ainda em corpos de adultos, manhosos, birrentos, ciumentos, doentes, que sofreram perdas precoces, mas, ninguém está querendo resolver o interno, buscar o divórcio (externo) é mais rápido e prático para resolver o problema e quando isso ocorre, percebe que precisa de terapia para se curar dessa decisão.
Lute por sua família com amor. A bondade e o altruísmo são as armas mais poderosas de que dispomos para combater as desavenças em nossas casas. O problema de muitas famílias é que, frequentemente, seus membros não estão lutando juntos, e sim uns contra os outros.
O paradigma do lar é diferente daquele encontrado nos esportes. No mundo esportivo, para que um ganhe, o outro precisa perder. Mas jamais será assim em nossas casas. No lar, se um perde, todos são derrotados. Só existe vitória na família quando todos ganham. É por isso que não adianta brigar ou discutir. O egoísmo causa danos terríveis a um casamento, e a intransigência pode afastar os filhos de seus pais. Dar de si antes de pensar em si: eis aí o segredo da harmonia familiar.
Não pense que meu casamento é fácil, mas eu decidi lutar todos os dias para dar certo.
Por: Juliane Silvestri Beltrame Especialista em direito das famílias e escritora.