Nesta edição você poderá conferir uma matéria de memória escrita com base em registros de jornais impressos da época em que Catharina Seger concorreu à eleição, elegeu-se e administrou o município. Conheça o pioneirismo dessa mulher e sua contribuição para o desenvolvimento de Palma Sola.
O primeiro registro é de um jornal de Santa Catharina. Devido ao recorte da página não é possível ver o nome do jornal ou mesmo a data específica. A notícia trazia como título: Estas duas mulheres têm um desejo comum: governar seu município, e falava sobre Catharina seger e Honorata Gadotti ambas concorrendo pela Arena para serem prefeitas. Catharina concorria em Palma Sola e Honorata não conseguimos identificar em qual município devido ao recorte da folha de jornal. Confira alguns trechos da reportagem.
“Catharina Seger, a única vereadora da Câmara Municipal de Palma Sola não está se candidatando a reeleição. Está se candidatando é ao cargo de prefeito, concorrendo pela segunda sublegenda da Arena no município. Casada, mãe de 7 filhos, Catharina se elegeu vereadora com 401 votos [...] nascida em Caxias do Sul, em 1922, foi a primeira professora primária de Palma Sola [...] Sua plataforma de governo para a campanha é bastante simples: educação, estradas, eletrificação rural e bem estar geral”.
A matéria segue falando sobre o feminismo na época. “O movimento feminista para ela representa pouco mais que uma sigla. Já ouviu falar, mas não tem conhecimento de suas atividades e reivindicações. ‘A mulher necessita se libertar um pouquinho. Dentro dos limites e deve considerar o homem um pouco mais alto. Mas entendo que a mulher não seja para servir somente no fogão e panelas’, afirmou”.
Ainda em época da campanha, a edição de 7 de setembro de 1976 de um outro jornal, trazia mais uma entrevista sobre Catharina. “Durante essa semana Catharina esteve em Florianópolis onde acompanhada do coordenador de campanha, Genir Crestani e do também candidato, Euzébio Pies, manteve contato com o deputado Antonio Pichetti, tendo sido recebida em audiência pelo governador Konder Reis. Na Assembleia Catharina declarou-se uma democrata liberal e disse que nos comícios pregará o bem-estar da população e dirá ao povo que tudo fará, caso se eleja, para dotar o seu município de eletrificação rural, estradas e escolas. [...] Ao sair do gabinete do chefe do Executivo estadual, disse que estava satisfeita com a acolhida. O coordenador de campanha Genir Crestani, informou que os trabalhos da rede de eletricidade rural serão iniciados antes do dia 15 de novembro, ‘isso porque o povo tem mania de São Tomé, só acredita vendo’, declarou”.
Na mesma entrevista Catharina falou um pouco sobre si. “Catharina disse ser uma péssima dona de casa. ‘Eu passo a maior parte do tempo cuidando do nosso negócio e viajando para fazer compras para a firma’. Sobre a participação da mulher na política, disse: eu aconselho a todas a participarem”.
Após ela ter vencido as eleições, outro jornal catarinense publicou mais uma entrevista. “Catharia Seger, eleita no último dia 15 para a função de prefeita de Palma Sola, afasta a possibilidade de aplicar a teoria feminista em sua administração. Depois de qualificar sua eleição como ‘o melhor presente que dei ao meu marido’ Catharina já alinhou seu plano de governo: a eletrificação rural e a construção de escolas fazem parte de suas metas prioritárias. ‘Não me cansarei em ir à Florianópolis e a Brasília para buscar recursos. Quero provar que a mulher tem condições de governar uma cidade”.
Na mesma entrevista, onde o jornalista insistia em falar sobre feminismo, Catharina respondeu. “A mulher deve disputar com igualdade, mas nunca deve querer ser superior e totalmente independente do homem”. A notícia dizia ainda que Catharina ingressou na vida pública em 1972, quando concorreu e se elegeu vereadora com 40% da votação do município. “Aceitou a luta a pedido da família Crestani, esposo, filhos e amigos. Na Câmara foi presidente da Comissão de Finanças”.
Após eleita uma grande entrevista foi publicada e começava falando sobre a oposição dentro da própria família. “Sérgio Seger, filho da Dona Catharina, faz parte do Diretório Municipal do MDB e concorreu à vereança, fazendo campanha em prol dos candidatos de seu partido. Perguntada se tal fato causa alguma divergência na família respondeu: ‘nenhuma. Ele é homem e tem direito de liberdade e escolha. Inclusive, antes da convenção de seu partido pediu minha opinião. Se tivesse sido eleito teria todo o meu apoio na Câmara Municipal’, disse”.
Sobre como governar Catharina respondeu. ‘Não pretendo administrar sozinha, mas em conjunto com o vice prefeito e assessores. Desejo, a partir da minha posse, dar o máximo de mim, fazer uma ótima administração para provar que uma mulher tem condições para administrar uma prefeitura’.
A mesma matéria questiona Catharina sobre eleições. “A senhora acha que o povo brasileiro sabe escolher seus representantes? ‘Não. Falta esclarecimento, instrução. Muitos não sabem o que uma eleição representa. Outros deixam-se simplesmente levar pela eloquência dos candidatos’.
Em outra reportagem, publicada em meados de 1977 o título destacava a importância de Catharina. Palma Sola: Uma mulher a testa da Administração, dizia o título. O fato mais destacado na reportagem foi a eleição de uma mulher para prefeita. “Um dos fatos marcantes da vida de Palma Sola ocorreu em 1976, com a eleição de uma mulher para dirigir os destinos do município [...] Dos 2.227 eleitores, 1.110 votaram nas sublegendas da Arena. A população total é de 7.200 almas, 2.200 das quais habitando a cidade”.
A matéria conta ainda sobre o vice de Catharina, seu irmão Claudino Crestani e continua falando sobre o governo dos irmãos. “Já elaboraram o plano de realizações administrativas que está em prática. [...] Dentre as metas de governo aparecem: eletrificação rural, ginásio para o Novo Cerro Azul, novas escolas, saneamento básico, estradas, pronto socorro para o interior, promoção social e econômica do homem, saúde pública ao alcance de todos e uma série de melhorias [...]
Os argumentos, segundo a prefeita, para estimular os governos a ajudar Palma Sola eram muitos. “Para se ter uma ideia da pujança da agricultura, o milho ocupa uma área cultivada de 6 mil hectares, o trigo 7 mil, a soja 8 mil, o feijão 1 mil e o arroz 250 hectares fornecendo uma produção muito superior a 800 mil sacas”, dizia a matéria.
Um exemplar do jornal A Voz da Fronteira, de 8 de novembro de 1978 refere-se a Catharina como: “mulher, é verdade, mas com tino administrativo que muitos homens não tem. Quem duvidar faça uma visita à Palma Sola: onde havia lixo há jardins; onde havia becos escuros há luz; onde havia lama, há calçamento. Tem gente dizendo que, Catharina, em dois anos fez o que os outros não fizeram em 16 de emancipação política. Esse gigante em forma de mulher soube angariar a administração até mesmo dos contrários políticos”.
Porém, um acidente trágico acabou com a carreira promissora de Catharina. Um edição do jornal O Estado, datada de 29 de junho de 1979 trazia a triste notícia: Prefeita veio à Capital. Ao voltar, morre em acidente na BR-470. “A prefeita de Palma Sola, Catharina Seger, morreu na quarta-feira à noite em consequência de um acidente. Catharina retornava de Florianópolis, onde manteve contato com Secretarias de Estado”.
Outro jornal com circulação estadual noticiou: “Mãe de 10 filhos, casada com Ernesto Seger, Catharina em companhia do médico pediatra Silvio Neugebauer, e do exator estadual Inácio Atamar Hammer, retornava da capital e quando a Brasília em que viajava já atingia a região próximo a Curitibanos na BR-470, uma caminhonete C-10 invadiu a pista contrária chocando-se contra o veículo da Prefeitura. A prefeita foi transportada, com urgência, para o Hospital de Curitibanos. Catharina, de 57 anos, não resistiu aos ferimentos e faleceu na mesa de operação”, na verdade Catharina teve 7 filhos: Irmã Julita, Pedro, Noeli, Darci, Vilson, Sérgio e Gilberto.
E a matéria finalizava: “O vice-prefeito de Palma Sola, Claudino Crestani, irmão de Catharina, encontra-se em Mato Grosso onde foi informado do acidente”. Claudino assumiu pelos dois anos restantes de governo.